terça-feira, 30 de julho de 2013

Homem que é Homem..., grande L.F.Verissimo!

Reproduzo com orgulho e admiração, o fantástico texto, se bem que longo, mais vale a pena, do grande Luis Fernando Verissimo, publicado no inicio da década de 80, final da de 70, que julgo antológico..., putz, é hoje que vou ter que dormir no canil...

Leia aí, quem sabe você não se sinta tão só e incompreendido, afinal ser chamado de Homem hoje em dia é quase um xingamento, kkkkkkkkk


HOMEM QUE É HOMEM

Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.

HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.

HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.

E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.


Se você não sabe se tem um HQEH dentro de você, faça este teste. Leia esta série de situações. Estude-as, pense, e depois decida como você reagiria em cada situação. A resposta dirá o seu coeficiente de HQEH. Se pensar muito, nem precisa responder: você não é HQEH. HQEH não pensa muito!


Situação 1


Você está num restaurante com nome francês. O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais. Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao maître. Você tem certeza que o maître está se esforçando para não rir da sua pronúncia. O maître levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem. Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja. Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. 0 prato principal vem trocado. Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique". Você a princípio sente pena do pato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo. Ele é um duro, pode agüentar. Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf' que não veio. Você: a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro; b) chama discretamente o maître e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem; ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho!


Situação 2


Você foi convencido pela sua mulher, namorada ou amiga — se bem que HQEH não tem "amigas", quem tem "amigas" é veado — a entrar para um curso de Sensitivação Oriental. Você reluta em vestir a malha preta, mas acaba sucumbindo. O curso é dado por um japonês, provavelmente veado. Todos sentam num círculo em volta do japonês, na posição de lótus. Menos você, que, como está um pouco fora de forma, só pode sentar na posição do arbusto despencado pelo vento.

Durante 15 minutos todos devem fechar os olhos, juntar as pontas dos dedos e fazer "rom", até que se integrem na Grande Corrente Universal que vem do Tibete, passa pelas cidades sagradas da Índia e do Oriente Médio e, estranhamente, bem em cima do prédio do japonês, antes de voltar para o Oriente. Uma vez atingido este estágio, todos devem virar para a pessoa ao seu lado e estudar seu rosto com as pontas dos dedos. Não se surpreendendo se o japonês chegar por trás e puxar as suas orelhas com força para lembrá-lo da dualidade de todas as coisas. Durante o "rom" você faz força, mas não consegue se integrar na grande corrente universal, embora comece a sentir uma sensação diferente que depois revela-se ser câimbra. Você: a) finge que atingiu a integração para não cortar a onda de ninguém; b) finge que não entendeu bem as instruções, engatinha fazendo "rom" até o lado daquela grande loura e, na hora de tocar o seu rosto, erra o alvo e agarra os seios, recusando-se a soltá-los mesmo que o japonês quase arranque as suas orelhas; c) diz que não sentiu nada, que não vai seguir adiante com aquela bobagem, ainda mais de malha preta, e que é tudo coisa de veado.


Situação 3


Você está numa daquelas reuniões em que há lugares de sobra para sentar, mas todo mundo senta no chão. Você não quis ser diferente, se atirou num almofadão colorido e tarde demais descobriu que era a dona da casa. Sua mulher ou namorada está tendo uma conversa confidencial, de mãos dadas, com uma moça que é a cara do Charlton Heston, só que de bigode. O jantar é à americana e você não tem mais um joelho para colocar o seu copo de vinho enquanto usa os outros dois para equilibrar o prato e cortar o pedaço de pato, provavelmente o mesmo do restaurante francês, só que algumas semanas mais velho. Aí o cabeleireiro de cabelo mechado ao seu lado oferece:

— Se quiser usar o meu...

— O seu...?

— Joelho.

— Ah...

— Ele está desocupado.

— Mas eu não o conheço.

— Eu apresento. Este é o meu joelho.

— Não. Eu digo, você...

— Eu, hein? Quanta formalidade. Aposto que se eu estivesse oferecendo a perna toda você ia pedir referências. Ti-au.

Você: a) resolve entrar no espírito da festa e começa a tirar as calças; b) leva seu copo de vinho para um canto e fica, entre divertido e irônico, observando aquele curioso painel humano e organizando um pensamento sobre estas sociedades tropicais, que passam da barbárie para a decadência sem a etapa intermediária da civilização; ou c) pega sua mulher ou namorada e dá o fora, não sem antes derrubar o Charlton Heston com um soco.

Se você escolheu a resposta a para todas as situações, não é um HQEH. Se você escolheu a resposta b, não é um HQEH. E se você escolheu a resposta c, também não é um HQEH. Um HQEH não responde a testes. Um HQEH acha que teste é coisa de veado.


Este país foi feito por Homens que eram Homens. Os desbravadores do nosso interior bravio não tinham nem jeans, quanto mais do Pierre Cardin. O que seria deste pais se Dom Pedro I tivesse se atrasado no dia 7 em algum cabeleireiro, fazendo massagem facial e cortando o cabelo à navalha? E se tivesse gritado, em vez de "Independência ou Morte", "Independência ou Alternativa Viável, Levando em Consideração Todas as Variáveis!"? Você pode imaginar o Rui Barbosa de sunga de crochê? O José do Patrocínio de colant? 0 Tiradentes de kaftan e brinco numa orelha só? Homens que eram Homens eram os bandeirantes. Como se sabe, antes de partir numa expedição, os bandeirantes subiam num morro em São Paulo e abriam a braguilha. Esperavam até ter uma ereção e depois seguiam na direção que o pau apontasse. Profissão para um HQEH é motorista de caminhão. Daqueles que, depois de comer um mocotó com duas Malzibier, dormem na estrada e, se sentem falta de mulher, ligam o motor e trepam com o radiador. No futebol HQEH é beque central, cabeça-de-área ou centroavante. Meio-de-campo é coisa de veado. Mulher do amigo de Homem que é Homem é homem. HQEH não tem amizade colorida, que é a sacanagem por outros meios. HQEH não tem um relacionamento adulto, de confiança mútua, cada um respeitando a liberdade do outro, numa transa, assim, extraconjugal mas assumida, entende? Que isso é papo de mulher pra dar pra todo mundo. HQEH acha que movimento gay é coisa de veado.

HQEH nunca vai a vernissage.

HQEH não está lendo a Marguerite Yourcenar, não leu a Marguerite Yourcenar e não vai ler a Marguerite Yourcenar.

HQEH diz que não tem preconceito mas que se um dia estivesse numa mesma sala com todas as cantoras da MPB, não desencostaria da parede.

Coisas que você jamais encontrará em um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de mímica.

Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: "Ton sur ton", "Vamos ao balé?", "Prove estas cebolinhas".

Coisas que você jamais vai ouvir um HQEH dizer: "Assumir", "Amei", "Minha porção mulher", "Acho que o bordeau fica melhor no sofá e a ráfia em cima do puf".

Não convide para a mesma mesa: um HQEH e o Silvinho.

HQEH acha que ainda há tempo de salvar o Brasil e já conseguiu a adesão de todos os Homens que são Homens que restam no país para uma campanha de regeneração do macho brasileiro.

Os quatro só não têm se reunido muito seguidamente porque pode parecer coisa de veado.


 








quarta-feira, 24 de julho de 2013

Nao tenho nada a dizer e nem nada disse, nem leiam..., rsrsrs

Então amigos, volto aos meus textos bissextos e episódicos, sei que são quase sinônimos, mas gosto do efeito das duas palavras juntas, rsss...

Bom, vamos lá, frio, muito frio, frio demais, mas tá bom.

O Reni fez isto, fez aquilo, não fez isto, devia fazer aquilo, prometeu, cumpriu, não cumpriu, ou seja, nada de novo, de noticia mesmo, nada, só a velha rotina.

A cidade continua andando como sempre andou, as coisas podem ficar um pouco melhores ou piores, mas nada de espantoso, nem de bom e nem de ruim, afinal todos sabemos que as opiniões extremadas tendem a ser de caráter político-partidário, a favor ou contra, e estou velho demais para me sensibilizar com quaisquer arroubos de “superlativismo” fabricado, que vai do elogio sem pudor, na maioria das vezes pago, até a critica raivosa, por quem não é mais pago, mais ou menos assim; se venta fecho a janela, se esquenta abro, e a vida continua.

Ah, tem a visita do Papa. Legal, que bom, e só. Sorte do governo e da Globo, que podem substituir a pauta dos “vandalismos” com uma overdose de imagens da visita do Sumo Pontífice dos católicos.

Acabou a Copa das Confederações, entra o Papa, e "La nave vá..", para onde, ninguém sabe.

No mais, bons vinhos, sopas quentes, muito agasalho, muito assunto sobre frio, o pessoal das redes sociais mais felizes com a oportunidade de falar sobre a temperatura e suas consequências. Legal, todos precisamos nos expressar, tendo ou não algo irrelevante para falar, não importa, pois na maioria das vezes falamos para nós mesmos, os outros somente funcionam como espelhos involuntários.

E assim sendo, encerro por aqui, por não ter mais nada a dizer, aliás, nem tinha nada a dizer e nada disse, só conversa fiada, deve ser o frio, o Papa, o Reni, o tédio, sei lá, rsssss...



 

sábado, 13 de julho de 2013

O aleijão do superlativo bizarro ou uma confissão de que nada sei...

Nós latinos temos um carinho desmedido, exagerado até, pelo superlativo. Herança cultural, trópicos, sol, resquício do romantismo mediterrâneo, sei lá, mas que temos é inegável e visível.

No entanto, neste nosso Brasil varonil e curioso, o superlativo está atingindo o “estado da arte”, deixou de ser um mero e impensado exagero para ser uma espécie de besta insana que esmurra as frágeis portas do bizarro.

Vejam vocês, basta um ator ou atriz iniciante, ou um cantor calouro qualquer emplacar uma novela ou uma música, para virar um “monstro sagrado”, seja nos palcos ou na telinha, e mais, basta um menino com algum talento, fazer um gol qualquer em uma partida qualquer de um campeonato de futebol qualquer, para virar herdeiro das mais “sagradas tradições futebolísticas nacionais”. A chamada crônica esportiva está cheia de “humoristas” superlativos.

Mas não para aí o gosto pelo exagero patético, até nas redes sociais, uma citação de inspiração mediana, acompanhada de uma boa foto, assume ares de verdade inscrita a fogo nas tábuas da lei de Moisés, e uma gracinha, que mereceria um meio sorriso divertido e condescendente, provoca gargalhadas assustadoras, dignas de um “serial killer” de filme norte americano, tal o número de “KKKKK” cometidos por dedos nervosos...

De política nem falo, é de lado a lado, Deus e diabo, céu e inferno, bons e maus, o meio termo e a reflexão é pecado mortal e coisa de fracos.

Pois é queridos amigos, vejo que a essência tímida e com substância, mesmo sendo pouca, foi definitivamente substituída pela forma estridente, escandalosa e fátua.

Ok, que assim seja, quem sabe até este texto não tenha sido superlativo? Vá saber, não sei de mais nada, ou talvez nunca soube...


 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Balões coloridos e a canalha oportunista

Existem declarações, ou pior, afirmações que se pretendem decisivas, que se assemelham a balões de gás, com a mesma aparência e mesma fatuidade.

É incrível o poder de sedução destas coisas, as pessoas curtem e compartilham nas redes sociais, sem ter a menor ideia do por que o fazem, só inspiradas na atração da “cor e barulho” do factoide, mais nada, nem nada é pedido, e nem precisa, pois a reflexão se torna luxo inacessível e fora de cogitação.

Até aqui tudo bem, sem problemas maiores, no entanto, a coisa complica quando elas saem das redes sociais e vão para as ruas, sem substância, logo sem constância, logo efêmeras, e acabam por desencantar e inibir outras ações que poderiam fazer alguma diferença.

Nada contra o “acordei e fui ao banheiro”, ou, “hoje só comi um bife com agrião”, ou ainda, "estou cansado (a) e vou descansar, até já”, estas são manifestações que até podem ser traduzidos como pedidos de atenção, e são importantes na medida em que suprem carências e permitem interação, que é fundamental para a convivência em sociedade.

O duro é quando esta “profundidade de expressão” sai da rede e vai as ruas, o resultado já sabemos, pois ao acabar a estridência, o vazio é ocupado pela militância canalha e assalariada, pois em política não existe vácuo.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Sinto muito pela franqueza!

Perdoem-me os militantes, os engajados, os partidários, os comissionados, ou seja, todo o universo de pessoas que vivem o momento político ao lado de quem venceu as eleições.

Nada contra sua militância, nada contra a defesa apaixonada, muito pelo contrário, louvo a lealdade que vocês devotam a quem permitiu que pudessem participar da administração municipal e com ela contribuir para a melhoria da sociedade, sei que muitos assim o fazem, e isto é bom e saudável.

Não farei ainda critica de qualquer espécie, creio na boa intenção, mas assim como está a saúde e outras áreas, não dá para continuar. Herança? Sei lá, ou até sei, mas não importa o que acho ou sei, o que importa é a demanda da população por saúde pública. Pouco importa de quem é a culpa, importa sim é quem pode fazer alguma coisa, não é hora de proselitismo político, não é hora de cobranças e recriminações, é hora de ações!

O ônus implícito de quem busca um cargo público, que luta por ele, que se expõe por ele, é o do compromisso nele embutido.

Avaliações e recriminações são válidas e justas, mas tem hora e lugar para isto, as necessidades da população estão acima das diferenças políticas pontuais, e digo pontuais, porque são rapidamente superadas pelas conveniências político-partidárias e pelos projetos de poder.

Com saúde não se brinca, não se faz política, se cumpre o que foi prometido, custe o que custar.