quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Viver ou navegar?

Existem coisas que fogem de nossa compreensão, existem coisas que nos recusamos a compreender e existem coisas que são inevitáveis e que no máximo tentamos administrar as suas consequências.

No fundo são todas iguais, só diferem na medida da atitude que tomamos em enfrentá-las ou não, dependendo de nossa força, pragmatismo, quem sabe até sorte, mas de uma certa forma do imponderável, pois somos imponderáveis, mesmo os cartesianos ortodoxos são imponderáveis, pois certezas são só refúgios construídos com areia.

Finais de ano nos forçam a catarses "oficiais", com ou sem vontade. Os piores parágrafos são os últimos, são os que deveriam justificar a narração, mais raramente o fazem, são pontos finais no meio de estradas forçadas pela ditadura da cronologia. São falsos e perigosos, pedem muito e nada dão, pois exigem resumos de histórias não completamente contadas e logo, em andamento.

Todos somos em maior ou menor grau superlativos, amamos adjetivos, tememos substantivos, e com razão, substantivos são cruéis, são definitivos, rotulam, definem e aprisionam.

Mas como já foi dito; “Navegar é preciso, viver não é preciso.” Sim, e eu pergunto mais a mim que a qualquer outro: Afinal qual é a grande diferença entre viver e navegar??

 


 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!

Existem pessoas que são especiais, não pelas realizações, não por se destacarem em alguma área. Não precisam ser reconhecidas ou nominadas publicamente, e algumas até podem e devem, mas são especiais porque nos falam ao coração.

Não considero o Natal nada mais que uma referência cronológica, consagrada em nossa cultura, mas entendo que é preciso que existam estas referências, elas funcionam como catarses positivas, incitam as lembranças, favorecem os resumos, determinam reflexões.

Devo ser sincero, não tenho muitos amigos, digo, aqueles que são irmãos por adoção, por opção não projetada, por um tipo de escolha que não consigo e nem preciso explicar.

Tenho muitos outros amigos, conhecidos, felizmente, poucos ou nenhum inimigo, espero, são parte do que sou, para o bem ou mal, já que não tenho a menor ideia de quem sou, no máximo tento entender o que faço e nem sempre consigo. 

Então, que nesta data emblemática que representa o inicio de uma crença, gestada nos confins de um império arrogante há mais de 2.000 anos e que sobrevive até hoje forte, viva e atual, todos tenhamos paz e trégua nas disputas muitas vezes vazias que nos envolvemos o tempo todo.

Feliz Natal!


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Do tempo e das coisas que cegos acreditamos...

E de repente o mundo se transformou novamente. Não que ela lembrasse com clareza do tempo em que percorria, arrastando-se pelos os galhos duros das árvores, talvez tivesse sido assim, talvez não, é mais provável que tivesse sido um sonho, bom pela luz, mau pela pouca mobilidade, não lembrava mais, as fronteiras tinham perdido suas referencias.
Sua vida recente era seu casulo, seu mundo, seus limites, sua zona de conforto.

Mas ele começou a ficar pequeno, cada dia menor, ela não tinha como entender e talvez nem quisesse, se o casulo diminuía ou ela crescia.

Um dia a luz invade seu útero externo, luz que para sua parca memória ou delírio, afinal era somente uma lenda perdida entre tantas outras alimentadas pela escuridão úmida, mas confortável onde vivia. Era o que ela tinha, era seu mundo, não se sentia infeliz porque não lembrava mais de como era antes.

Na busca de mais espaço, para combater o desconforto, descobre que tem asas. O casulo de desfaz em pó e na primeira gota da chuva recente ela se vê na folha molhada. Ela tem cores que nunca ousou imaginar, ela tem asas que nunca sonhou, pois nunca soube que existissem.

E então voou e voou, a esmo, à toa, voou pelo prazer de voar, amou, reproduziu-se, gerou e continuou voando, voando como um Ícaro alucinado atrás do sol e da luz e voou para muito longe, mesmo não sabendo o que era longe ou perto. Viu as flores, delas provou, e viveu mais em pouco tempo o que havia vivido em toda a sua vida.

O tempo não deveria ser medido como um cárcere, o tempo é uma experiência, uma vivencia que não pode ser medida em horas ou anos e sim em intensidade.


 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Paradoxo ou regressão cultural e política?

Reli, talvez pela quinta ou sexta vez, não sei dizer, a magnífica biografia de Assis Chateaubriand, escrita por Fernando Morais e intitulada “Chatô – O Rei do Brasil”.

Devo dizer que um certo ranço esquerdista permeia a obra, mas sem comprometê-la em absoluto. O ranço da direita é mais óbvio, mais primário, me arrisco a dizer, já o da esquerda é mais sutil, lento e fluido, mas ainda um ranço e incomoda.

Bom, mas o objetivo deste comentário é uma questão curiosa e recorrente: Por que temos que ser dicotômicos? Somos pétreos cartesianos sem sequer conhecer a obra de Descartes! Perdão, mas creio que ao menos a maioria que pontifica montada em certezas profundas, com certeza nunca o leu!

É do ser humano o contraditório, inclusive o íntimo contraditório.

Chateaubriand construiu um império de comunicações sem igual até hoje. Só isto já seria mais que suficiente para seu epitáfio.

Imperadores, e aí valem para todos que ao longo da história construíram impérios, não podem ser julgados a não ser por outros imperadores ou pela história.

Quando leio julgamentos “gordos” de razões fátuas, de pontos de vista expressos com tons de verdade absoluta, me envergonho. Sinto vergonha de minha condição de ser humano que tenta ter a suprema e talvez indevida pretensão de pensar.

Uivos messiânicos, ranger de dentes e o cultivo artificial de slogans e de tomadas de posição pagas, e mal pagas, parecem-me somente gado tangido pela vaga promessa de pasto, e isto me deprime.

Deixo com vocês as palavras de D. Helder Câmara sobre Chateaubriand, aliás, D. Helder, independente de suas posições políticas, foi alguém que honrou sua condição de brasileiro, pois certo ou errado, ele foi um dos brasileiros que nos redimem com sua incrível lucidez e até em seus arroubos, por vezes, incontidos, das antas que assolam a nossa mídia e infestam as redes sociais.

Mas vamos lá, um pouco antes da morte do jornalista ele disse:

"De Chateaubriand se pode dizer o melhor e o pior. Haverá quem diga horrores pensando nele, mas como não recordar as campanhas memoráveis que ele empreendeu? Dentro do maquiavélico, do chantagista, do cínico, o Pai saberá encontrar a criança, o poeta. Deus saberá julgá-lo.”

E eles eram inimigos políticos ferozes, só que não eram pequenos, tinham o tamanho do Brasil que depois se apequenou para acomodar as questiúnculas paroquiais que nos fazem mesmo que grandes economicamente, nos tornam bobos enfatuados culturalmente...


 
 

 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Copa do Mundo e política..., mas só aqui??

Falam em politização da Copa do Mundo de 2014 como se fosse uma invenção brasileira em ano eleitoral, e uivam o seu descontentamento quase messiânico. Tudo bem é sim, é politiqueira sim, penso eu. Mas foi a primeira vez na história das Copas?

Vamos tentar ler um pouco da história e refletir.

Fora a de 1930, que cartesianamente não pode ser definida como tal, as de 1934 e 1938 foram vitrines descaradas para o fascismo italiano. A de 1950, aqui neste mesmo Brasil varonil foi de um ufanismo nacionalista de envergonhar um Galvão Bueno, tarefa das mais difíceis...

As de 1954, 1958 e 1962, foram neutras, salvo alguns compreensíveis arroubos tupiniquins, estas coisas como pátria de chuteiras, resgate de uma raça tida como “mestiça” e que por isso sofria de complexo de inferioridade e outras asneiras similares.

A de 1966, a Inglaterra, em baixa no futebol mundial e começando a respirar os ares mais leves do pós-guerra e amargando o pós-império, tinha que ganhar, nem que a Rainha calçasse chuteiras e envergasse a camisa 9 do English Team.

A de 1970 fez mais pelo golpe de 1968, que alguns teimam em dizer que foi em 1964, que foi ainda um ensaio, fez mais pelos militares que qualquer OBAN, funcionou como um poderoso anestésico injetado na fraca consciência nacional.

A de 1974. Foi um saudável interlúdio, logo seguida pela de 1978, onde a receita de 1970 foi novamente aplicada e com êxito.


Na de 1982, nada de ruim a comentar, mas a de 1986 foi transferida as pressas da Colômbia para o México pelas razões que todos conhecemos. Normal em 1990, seguida da de 1994, onde poderosos grupos, alguns latinos, imaginavam que com a Copa alavancariam o “soccer" nos USA.

Na França, a de 1998, tornou-se um dos maiores mistérios e prato farto até hoje para as mais elaboradas teorias de conspiração. Em 2002, dois países, viagens intermináveis, erros inacreditáveis de juízes e etc.., além de reforçar a imagem dos dois maiores aliados dos Estados Unidos na região.

Em 2006, normal, fora o fato de celebrar uma Alemanha novamente unida e forte, e deixar claro para o mundo isto...

Na última, em 2010, a escolha da África do Sul como sede pode ter todos os méritos do mundo, menos o esportivo, e a conta ainda vai ser cobrada no mínimo pelos próximos 30 anos de sua população.

Portanto, que espanto é este com o que está acontecendo aqui no Brasil? Ingenuidade, plataforma política, tédio ou só solidão que as redes sociais parecem atenuar?


A Arrogância do Poder

O polêmico e politicamente incorreto, para alguns, senador norte-americano W. Fulbright escreveu um livro, a meu ver antológico, chamado “A Arrogância do Poder”, mas que na época foi visto como alarmista e parcial, pois o associavam ao momento político de então, devido aos conceitos radicais que expressava, Porém o tempo mostrou, que assim como os bons vinhos, ganhou valor e brilho, não pelos conceitos, mas pelo que hoje é visto como até profético.

Devo dizer que discordo de quase tudo o que escreveu, como escreveu e porque escreveu.

Mas quem não o leu, modestamente recomendo. Creio ainda, que para alguns servirá como um espelho, nada agradável, mas um espelho honesto.

O grande risco do chamado “oportunismo político”, ou pior, "pragmatismo político" é sua fronteira frágil com a traição, com a mentira oficial, com o desprezo pelos que os colocaram no poder.


Mas o pior não é isto, pois os malefícios se voltariam, assim esperamos, a quem os enganou, e isto acontece, nem tanto quanto deveria, mas acontece, o problema é que demora, e se decepção pode ser gestada e tem ciclo de crescimento, a dor não. A dor é imediata, não respeita argumentos, não tem paciência, não tem hora. Só dói, só exige, só existe.




Nelson Mandela - Um Homem




Na minha ótica, distorcida para alguns talvez, que o deificam e outros que o demonizam, lamento por ambos, mas penso que Mandela foi um grande homem.


Fez composições políticas que eu não faria, tolerou o que eu não toleraria, cedeu o que eu não cederia, resistiu ao que eu não conseguiria resistir.


Foi hábil como político, mudou a imagem de um país perante o mundo, provou que a tolerância, mesmo que amarga, é um bom remédio e funciona.


Sua história de vida e resistência são exemplos infelizmente raros.


Resta saber se cumpriu a inevitabilidade do que lhe foi imposto, do que não podia mudar e sentiu que a resignação era a única alternativa. Mas saiu-se bem, cumpriu o papel de ícone, que penso nunca não ter pedido, mas que os tempos lhe impuseram.


Não foi um santo, e nem nunca li nada que denotasse que ele aspirava a esta posição de ícone ou esta oportunista “canonização”.


Penso que Mandela foi um Homem (com maiúscula mesmo) que justificou a definição, que justificou a espécie, não só a biológica, mas a conceitual, e esta, creio, é sua maior herança.


Não creio que o mundo tenha sofrido uma grande perda somente pela sua extinção meramente física, pois sua obra, maior que sua existência biológica, lhe transcendeu, para nossa sorte e exemplo futuro.