sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Paradoxo ou regressão cultural e política?

Reli, talvez pela quinta ou sexta vez, não sei dizer, a magnífica biografia de Assis Chateaubriand, escrita por Fernando Morais e intitulada “Chatô – O Rei do Brasil”.

Devo dizer que um certo ranço esquerdista permeia a obra, mas sem comprometê-la em absoluto. O ranço da direita é mais óbvio, mais primário, me arrisco a dizer, já o da esquerda é mais sutil, lento e fluido, mas ainda um ranço e incomoda.

Bom, mas o objetivo deste comentário é uma questão curiosa e recorrente: Por que temos que ser dicotômicos? Somos pétreos cartesianos sem sequer conhecer a obra de Descartes! Perdão, mas creio que ao menos a maioria que pontifica montada em certezas profundas, com certeza nunca o leu!

É do ser humano o contraditório, inclusive o íntimo contraditório.

Chateaubriand construiu um império de comunicações sem igual até hoje. Só isto já seria mais que suficiente para seu epitáfio.

Imperadores, e aí valem para todos que ao longo da história construíram impérios, não podem ser julgados a não ser por outros imperadores ou pela história.

Quando leio julgamentos “gordos” de razões fátuas, de pontos de vista expressos com tons de verdade absoluta, me envergonho. Sinto vergonha de minha condição de ser humano que tenta ter a suprema e talvez indevida pretensão de pensar.

Uivos messiânicos, ranger de dentes e o cultivo artificial de slogans e de tomadas de posição pagas, e mal pagas, parecem-me somente gado tangido pela vaga promessa de pasto, e isto me deprime.

Deixo com vocês as palavras de D. Helder Câmara sobre Chateaubriand, aliás, D. Helder, independente de suas posições políticas, foi alguém que honrou sua condição de brasileiro, pois certo ou errado, ele foi um dos brasileiros que nos redimem com sua incrível lucidez e até em seus arroubos, por vezes, incontidos, das antas que assolam a nossa mídia e infestam as redes sociais.

Mas vamos lá, um pouco antes da morte do jornalista ele disse:

"De Chateaubriand se pode dizer o melhor e o pior. Haverá quem diga horrores pensando nele, mas como não recordar as campanhas memoráveis que ele empreendeu? Dentro do maquiavélico, do chantagista, do cínico, o Pai saberá encontrar a criança, o poeta. Deus saberá julgá-lo.”

E eles eram inimigos políticos ferozes, só que não eram pequenos, tinham o tamanho do Brasil que depois se apequenou para acomodar as questiúnculas paroquiais que nos fazem mesmo que grandes economicamente, nos tornam bobos enfatuados culturalmente...


 
 

 

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