terça-feira, 28 de maio de 2013

Temporal

Do alto de prédios que riam dos limites do olhar humano, caiam chuvas de pedras picadas.

As janelas de imensos vidros se encolhiam e se retorciam aterrorizadas.

Até o Sol soberano se escondeu por trás das nuvens de semblante carregado, como se vingadoras fossem de um crime tão terrível que nem nome lhe foi dado.

A Terra escureceu.

Deuses primevos, em tempos de antes, nasceram destas trevas e desta força insana e morreram ao primeiro raio de sol, mas eles deixaram a semente do conforto fácil, impensado, desejado, a ser gerado no ventre farto da impotência humana.

Os homens, ao longo dos tempos, se comportam como mariposas em busca da luz e do calor que os conforta e mata.

Deuses nasceram e morreram na exata medida de nossa angústia e fé, sublime alimento do paradoxo que une o mortal e o divino, a ponte metafísica, a dúvida, o eterno, o sempre infinito que é sempre o hoje, o tempo violentado.

 
 

 

 

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terça-feira, 21 de maio de 2013

Esmolas?

Meio, parte, pedaço, um tanto, pouco.

Rever, crescer, aumentar, muito.

Qualquer, meio, no meio e em meio, o que é vida senão o insano tentar, ousar, tremer, arcar, pagar, receber, ganhar, perder, ter, ser, ter sido, será?

Adjetivos são só esmolas concedidas com relutância pelos ricos e avarentos substantivos.


Fugir...

Quem nunca teve vontade de fugir, de deixar tuda para trás e mergulhar no esquecimento do seu próprio meio, sem ao menos olhar sobre seu ombro, de abrir outros espaços, ver o que está atrás de tantas portas fechadas?

Muitas vezes, este sentimento não significa necessariamente desconforto com a sua vida atual, com suas relações, com seu trabalho, com quem você é, ou ao menos é visto como sendo, creio que seja o irresistível fascínio da porta fechada, com janelas altas, difícil de espiar, fácil de imaginar e fantasiar.

Outras vezes, é a mais absoluta e calma saturação, o cansaço com o mesmo, com as mesmas lutas, mesmas decepções, mesmas derrotas e também, com as mesmas alegrias, mesmas vitórias, pois o cerne, o fulcro da vontade de fugir, não é uma questão de vitória ou derrota, de alegria ou tristeza, o fulcro está no mesmo, na ditadura do sempre, na prisão do que você julga ser certo, na escravidão das suas convicções e responsabilidades delas decorrentes, do julgamento dos seus.


sábado, 18 de maio de 2013

Uma Fábula contada e recontada, porém pouco entendida...

Vou contar uma fábula, história, estória, não importa, mas que foi contada e recontada inúmeras vezes:

Certa feita um jovem e idealista, perguntou a uma velha raposa da política e negócios deste Brasil varonil, qual a opinião que ele tinha sobre a política e os negócios do país?

Bem, disse o questionado, você sabe como se faz um açude?

Não, respondeu o jovem.

É assim, você cava um buraco grande e vai enchendo de entulho, gravetos, restos de comida, pedras, tudo o que sobrar e não tiver serventia, pois é assim que faz a base dele, depois espera chover e encher.

Mas vai ficar um lixo malcheiroso, retrucou o interlocutor.

Então, vai sim, replicou a raposa velha, mas com o tempo vai decantando e a sujeira vai se depositar no fundo e a por cima você só verá a água cristalina e límpida. Mas, complementou, nunca remexa no fundo, pois aí a sujeira sobe...

Pois é, moral da história sem moral:

Cuidado com muitos que hoje, e por aqui tem muitos, insistem em vestir roupas brancas de vestal, endurecem o dedo, acusam e apontam, sem o banho primordial para purgar o passado, com o tempo elas turvam e cheiram mal...


sábado, 11 de maio de 2013

Mãe: Minha admiração, carinho e perplexidade profundamente respeitosa!

Se Santa Maria, se Virgem Maria, como queiram os católicos, como não queiram os protestantes, não importa, o que importa é Maria Mãe de Jesus, o Cristo, e mais ainda, mais que tudo, é Maria, a Mãe!

Mãe do mistério divino, tão simples e tão difícil de entender, afinal como entender duas ou mais pessoas ao mesmo tempo em um só corpo, como entender o milagre do ventre que persiste fora dele, que amplia o ventre para além do espaço físico, que desafia o tempo, que é mais que a biologia, que é uma prova de Deus, ou para os ateus, uma prova do eterno, do único, do perene, do sempre, que foi, é e será!

A maternidade é um desafio ao ceticismo, gerar vida em carne, todos os animais o fazem, mas como gerar alma, gestar, manter? Da Geia primeva até a mulher de agora, o ciclo se perpetua, por que, como?

Eu não sei, mas as mães sabem, portanto, meu carinho, meu respeito e minha admiração perplexa por serem guardiãs deste sublime mistério.


Sei lá, vou pensar, ou não, tanto faz, não importa...

Muita coisa para fazer, pouco tempo, pouca paciência, pouca disposição para escrever, pouco assunto, ou será pouca inspiração?

Se um dia houve alguma, se é que não foi só um exercício continuado e teimoso de contrariar a natureza? O tesão insano de discordar do óbvio?

Quis falar por falar? Quis ser lido e entendido? As duas coisas ou nenhuma delas, o que foi, como foi e mais, por que foi?

Continuo? Continuo por duvidosa vaidade sem fundamento? Continuo porque a tela está em branco, ou devo respeitar sua virgindade expectante e não conspurcá-la com as dúvidas nascidas do tédio, reflexões rasas e certezas duvidosas?

Sei lá, vou pensar, ou não, tanto faz, não importa...



terça-feira, 7 de maio de 2013

Escorpiões

Nadando num mar de slogans, enredando-se nas algas das afirmações definitivas e vazias, engolindo litros de da água doce das promessas, bebendo do vinho da expectativa e vomitando o amargor da realidade.

Nossa sina e vocação é o engano, temos a volúpia do engano, o damos aos outros, vivemos nele, somos vítimas e algozes de nossa natureza.

No fundo somos todos escorpiões da fábula, mas sem a coragem de atravessar rios.



domingo, 5 de maio de 2013

Lamentável e irritante!

Putz, como é irritante você ler no facebook posts mal educados e mal redigidos na sua maioria, com grotescos erros de português, apresentando fotos chocantes e pré-julgando ao dizer que ninguém compartilha por ser de doença ou alguma desgraça!

Além de semi-alfabetizados e um tanto quanto preconceituosos, são despreparados, pois somente "chamam" para o problema ou situação que querem divulgar, nada além de irritação ou descaso.

Não duvido e nem tenho como duvidar de suas boas intenções, mas não é agredindo com uma descontrolada e infantil metralhadora verbal que se obtém adesão, muita gente confunde agressividade gratuita com engajamento, o que é uma pena, um desperdício de energia e falta de educação.

sábado, 4 de maio de 2013

Esterilizando a denúncia

Não sei até que ponto é realmente importante a denúncia pela denúncia, a denúncia como produto de consumo de mídia e não como mola propulsora de soluções.

O meio está sendo confundido com o fim, e pior, se satisfazem com o meio de mudança, a denúncia, como se fora o resultado final, a providência, a punição quando couber, enfim, a solução. Terrível, e não sei até que ponto, proposital maneira de confundir as coisas.

O gerúndio preguiçoso, pedante e mal colocado, não é só uma praga de linguagem, é mais, pois neste país tem sido uma forma de conduzir as nossas mazelas, já sempre estamos “denunciando”, “protestando”, “resmungando” e outros gerúndios sem conseqüência e que de tão frustrantes, escondem e remetem ao esquecimento a causa e perdem de vista a solução.

Perdemos de vista o inicio da caminhada, esquecemos o destino e vivemos confusos e gritando a beira do caminho, e pior, no meio imenso e confuso dele.

Nestes novos tempos temos absoluta liberdade de expressão, falamos o tempo todo e não dizemos nada, é o cruel, bem urdido e eficaz processo de esterilização da justa indignação.