segunda-feira, 2 de março de 2015

Filhos do tempo

Se há destino marcado, não há escolha, se há escolha, não há destino. Somos o que somos sem adjetivos ou justificativas.

Somos vitimas inocentes de nossas tentativas, morremos aos poucos vendo a luz fugir de nossos olhos cansados.

Mares inteiros de dúvidas tentam nos engolir enquanto nos agarramos em pequenas boias de algumas certezas, somos náufragos de nossas vontades, vivemos dos restos e em meio à herança de Pandora.

Somos os filhos perplexos do tempo em que vivemos.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Lembranças

As lembranças são como pães, perdão pela metáfora canhestra, mas vou em frente. As boas levam pouco ou nenhum fermento, dependem da memória dos sentimentos vividos, de gosto sentido.

Já as más, levam uma enorme quantidade de fermento, muitas vezes em excesso, e continuam a crescer até invadir espaços que não lhe pertenceriam, pois são finitos, arrombam portas que não estão fortes e nem prontas para elas.

Portanto, penso que por vezes é vital uma grande limpeza, para devolver o equilíbrio precário de nossa alma (alma?), que é tão pródiga em guardar e pobre em processar e triar o que nos é importante, é só uma esponja sem critério.

Mas, nós, seja por masoquismo ancestral, seja por condicionantes sociais, seja pelo culto a culpa, as alimentamos com nossa preguiça de refletir e avaliar, e se preciso for, limpar.

Nós não nos cuidamos bem, nesta era do culto ao corpo, este o cuidamos, mas e o resto, deixamos ao acaso de nossas angústias...?



sábado, 24 de janeiro de 2015

Uma noite

Isto pode ter acontecido ontem, anteontem, há 10, 15 ou mil anos, quem sabe jamais aconteceu, quem sabe não foi um sonho fujão de alguém, que escapou dentre suspiros na noite e por janelas mal fechadas e veio deitar-se a meu lado, buscando razões que eu não tenho.

Cidade do Panamá. A chuva fina criava lagoas que brilhavam nas luzes fracas da cidade antiga. Pareciam diamantes falsos, tão falsos que quis acreditar naquele brilho improvável.

No fim de uma rua qualquer, uma lâmpada pendia de um alpendre, fraca como um enforcado que se recusa a morrer, criava com sua luminosidade um vácuo na chuva que parecia eterna, como um farol dos errantes, para quem a procura é maior que o achado.

Segui o sonho, afastando a mata de esperança que o tornava quase impenetrável, segui a trilha de minha angústia, e cheguei lá, antes que a luz morresse, antes que eu desistisse e fosse condenado a correr atrás de luzes que não mais existiam, eu precisava acreditar, não importava em que!

Na antiga caixa registradora do velho bar, alguém, talvez fosse o dono, olhava para a gaveta aberta, podia estar pensando se poderia pagar a cerveja do dia seguinte, ou se olhava através dela, buscando o espelho perdido de seus sonhos de menino, olhava através da realidade, buscando na neblina da desesperança, o que perdeu, porque talvez jamais o tivesse?

Passava da meia noite, eu acho, por que noites de chuva fina são sempre mentirosas. Só uma mesa ocupada, e por um casal, que falava sem se olhar, e quando olhava, nada diziam, era uma espécie de acordo?  Ou falavam com a boca sobre o trivial e com o coração, quando se olhavam? Nunca vou saber, pois o sonho fujão também pode ter me mentido.

O branco encardido das poucas mesas mostravam as testemunhas de outros sonhos, gotas de vermelho antigo, me fizeram lembrar Unamuno e seu pelicano, eram como corações vermelhos abertos em peitos brancos, como rosas teimosas chorando inútil seu infortúnio. Toalhas que um dia foram brancas, como luzes teimosas e ilógicas, um paradoxo dolorido!

Mas, como disse, isto deve ter sido coisa deste sonho perdido na leniência da noite, na tolerância das madrugadas, nasce e morre no anverso do dia, desafia e teimoso, sempre perde para o sol.


Sonhos burros que tendem a beber de poços secos, e comer de pedaços mínimos de alma, que largamos pelo chão a cada dia e cada passo, mendigos de nossa esperança ou desesperança, vivem pelos cantos e frestas, se escondem em quartos antigos que nunca foram abertos, esperam chaves que foram perdidas há muito tempo, então só espiam e nos pedem o que não podemos dar, porque não temos mais, ou quem sabe, nunca tivemos.





domingo, 28 de dezembro de 2014

DOS VENTOS

Éolo era o Deus dos ventos na mitologia grega, pois Zeus o havia presenteado com o controle absoluto sobre eles.

No entanto Zeus o alertou para que tomasse muito cuidado e que nunca os cedesse gratuita ou irresponsavelmente a ninguém. 

Pois bem, ao ser visitado pelo herói e semideus grego Ulisses na ilha onde morava, movido pela admiração deu a Ulisses um vento brando e uma sacola com todos os ventos.

A sacola foi relegada a um canto da embarcação e aberta pela tripulação que julgou que esta continha ouro, liberando assim os ventos, o que gerou a expressão de “quem semeia ventos, colhe tempestades”.

E depois disto nunca mais ninguém soube onde se escondem os ventos e o que os gera. Alguns dizem que se ocultam nas quatro esquinas de um mundo antigo que só existe na memória dos que sonham, mas é só uma especulação.

Talvez por isso vivamos até hoje sempre ao sabor e humor dos ventos, reais ou metafóricos.



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

UMA INTERPRETAÇÃO CANHESTRA DA MITOLOGIA GREGA

Quando Zeus, em sua sabedoria temperada com hidromel e regada a vinho, criou Pandora, não podia saber o que fizera.

A primeira mulher criada, Zeus deu-lhe o que ficou conhecido como a Caixa de Pandora, que continha todos os males do mundo.

Metáforas a parte, ela abriu a caixa e os males escaparam, menos um, a Esperança.

A Esperança gerou filhos que mudaram o mundo, para melhor e para pior, mas os piores deles foram à expectativa e a confiança. Estes gêmeos deram ao pobre homem, pretensioso e arrogante, a bebida dos deuses e os embriagaram.

Mas a confiança também gerou um filho da mesma cepa, mais dissimulado, mas muito letal, e a ele chamou de decepção.

O ou a decepção, não é agressivo e nem cobra como a expectativa, muito pelo contrário se esconde atrás da mãe, a confiança, que encobre sua natureza letal.

É um fruto que se alimenta da sede do homem, brigando pela água da vida, e suas raízes são maiores, mais fortes e implacáveis.

Pandora, curiosa, inconsequente e frívola, criou, não com o que liberou, mas com o que reteve talvez um dos, senão o maior mal do mundo, pois não fere a carne, fere a alma.   



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo!

Mais um ano se vai, a cronologia exerce seu direito cruel. Novas esperanças furtadas dos vãos corroídos e furtivos da Caixa de Pandora? Pode ser. Mas no fundo é só uma referencia, com ou sem reverencia...

Lembrança de que somos finitos, que temos data para acabar? Não, não creio, estas análises pseudo-intelectuais são só liberdades literárias ou frutos passados de expectativas não realizadas, ninguém se sente finito, somos infinitos na vontade ou na falta dela.

Bons ou maus anos, todos tivemos, temos e teremos, mudamos com isto? Sim e não, somos duais ou bipolares, que talvez seja a mesma coisa em contextos diversos.

Os anos que passam pesam, mas de formas diferentes, sejam como bigornas ávidas e pesadas, sejam como moendas brandas e preguiçosas, mas passam. Ninguém se livra da ditadura do tempo.

Mas apesar, ou porque, ou por nada, como queiram, desejo uma ótima passagem de ano, com uma festa de Natal adoçando este período, afinal, somos parceiros, voluntários ou involuntários nesta jornada de calmarias e tempestades, seja temendo o horizonte sombrio, seja apreciando o por do sol em águas claras.

Feliz Natal e boa passagem de ano!




sexta-feira, 21 de novembro de 2014


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HORIZONTE

Neste planeta redondo, cheio de retas infinitas, o que nos trai? A simples ilusão de ótica, a miopia ancestral que busca o fim da jornada, quando o fim absoluto é só o inicio, ou a vontade e necessidade de seguir em frente?

Quando o mundo era entendido como plano, foi provado que estávamos errados, e quando deixou de sê-lo, nos tornamos errantes?

Neste mundo redondo, todo o inicio é igual ao fim, devemos correr atrás dos 360 graus?

Devemos viver com os olhos em qual horizonte? O da lógica cartesiana ou o da fantasia, onde é possível aplainar as curvas, abrir caminhos e tornar a vida e o mundo numa imensa e infinita reta de milhares de horizontes, tantos quantos nosso olhar alcança e o nosso coração anseia?

Que a lógica seja uma escrava obediente e que a fantasia seja uma generosa, e até um pouco míope, senhora das retas, curvas e caminhos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

QUANDO

Quando, e quando quiser, e se quando puder, e se quando for agora, e se quando já passou, tudo muda, tudo faz sentido, mesmo que o sentido não seja percebido e nos pareça não fazer sentido.

Tudo começa com um pequeno desconforto, nada de importante, mas a gente o deixa crescer, é semente do quando e como, simbiose sutil e avassaladora, que brota nas raízes das certezas, não é visível aos olhos do mesmo, do comum, do padrão.

A revolta com alvo é óbvia, tem razões, tem inicio, dela se espera um fim, mas a espera do quando não é um processo, é o que é, e foge das nossas definições escorregadias como uma enguia metafórica, real como a impossibilidade de domá-la em meio ao rio rápido em que corre o braço da vida.



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terça-feira, 20 de maio de 2014

Tristeza

A tristeza não é um vento forte, que a tudo derruba, isto pode ser só uma decepção passageira.

Não é um vento morno de verão e nem um vento gelado de inverno, pois eles são facilmente perceptíveis.

Não é o vento de outono que desfolha árvores e tinge a terra com um tapete castanho.

A tristeza se assemelha mais a um suave vento de primavera, que não choca de inicio, mas se infiltra, mascarado pelo perfume das flores, e toma você. Preenche e determina seu espírito, te muda, te redefine e de repente, sem saber quando e nem por que, você está triste.

O duro é esperar a próxima primavera para contrapor este sentimento.



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Caminhos

Caminhos rudes, trilhas traçadas, riscadas no chão do implacável hábito, estrada sem fim, fim de jornada.

Pés cansados e céticos teimam ver os caminhos como iguais, buracos diferentes, curvas diversas, mas o mesmo chão duro e indiferente, os mesmos pés, o mesmo caminho, na mesma estrada sem fim.

No fim, todos os caminhos são só cicatrizes da terra que seguimos, com vontade ou sem, com esperança ou sem, mas seguimos o mesmo caminho sem fim, buscando o que já esquecemos o que era, é a busca pela busca.

Não me perguntem por quê? Pois só saberia dizer que caminhar é preciso, viver é a circunstancia do caminhar e do caminho. Uma espécie de Nau Catrineta sem mar, como filhos bastardos de Jorge Albuquerque Coelho, ressuscitados pela mão de Ariano Suassuna.

Só errantes sem rumo e cheios de tentações que não compreendemos.



domingo, 23 de março de 2014

A esperança no lixo

Considero-me uma pessoa calma e tranquila, já vi muito na vida, já fiz muitas coisas, portanto não me sinto um adolescente traído, mesmo que tenha agido como tal, mas passada esta fase, é hora de reagir e questionar.

E sem esta de “nada pessoal”, pois se o voto é pessoal, me sinto sacaneado pessoalmente, portanto é pessoal sim! E arroubos histéricos e mal educados não me assustam!

Não peço e nem quero favor, eu exijo o que tenho direito de ter. E não serão estes apaniguados de rasa moral que vão me ensinar a como agir e me comportar.

O ditador, mesmo sem estatura para tal, se alimenta da falta de critica, de cobrança, da falta de espelho. Podem até nem serem maus, mas são fracos e cedem facilmente à lisonja, falta-lhes formação mais sólida, falta-lhes vocação.

Nem falarei em espírito público, pois isto me parece uma frase de ficção vitoriana romântica, falo em respeito, não por caráter e nem por vergonha, mas ao menos por conveniência política.


Não consigo entender como alguém joga no lixo tanta esperança...


segunda-feira, 10 de março de 2014

Véus, cortinas e nuances

É estranho, mas as coisas que mais doem são aquelas que só permitem as silhuetas entrevistas pelas frestas das cortinas puídas pelo tempo de esperanças incertas.

Curioso, mas véus sempre mostram mais que fotos coloridas gritando o sol que as tinge de cores óbvias, véus disfarçam a farsa, a tragédia e a comédia humana, enquanto sombras indistintas dançam sua música insana de compasso dúbio, iluminadas pelas poucas luzes que fingem não existir mais, mas que ainda teimam em brilhar.

Nada é totalmente claro ou escuro, bom ou mal, certo ou errado, definitivo ou indefinido, são só as irônicas nuances de trilhas errantes rumo a algum lugar qualquer, numa hora qualquer, num tempo que pode ser ontem ou amanhã, pois o hoje é só uma transição.

Da vida só uma certeza, a de que não existem certezas.


domingo, 2 de março de 2014

Viva o fabuloso e maravilhoso país da bunda!

Assisti, devo dizer que por descuido, um programa no sinal aberto, onde um grupo de pessoas discutiam detalhes dos desfiles de carnaval como se fosse uma espécie de ciência profunda, recheada de tiradas “filosóficas de almanaque ruim”, com o duvidoso direito de teorizar sobre pretensos simbolismos em meio ao surrealismo anárquico e quase analfabeto (para não dizer absolutamente analfabeto) que caracteriza estes desfiles.

Mesas redondas sobre futebol também tem esta mesma pretensão e característica e a exercem, e pior, o ano inteiro.

Ora meus amigos, como levar este país a sério, como reclamar de nossos representantes, do governo, eles nos representam sim e quase fielmente enquanto povo e valores que cultivamos.

A audiência e o farto patrocínio comercial, de produtos que consumimos, destes programas o atesta, e depois reclamam como párocos vitorianos de uma inocente bunda numa camiseta, somos o país da bunda, com todos os significados que queiramos dar a esta afirmação!

Nada contra o carnaval, eu até gostava, mas quando era só uma festa irresponsável e não uma manifestação “séria” de brasilidade e cidadania...

Ah, e este ano ele será o mais longo de todos os tempos, pois logo vem a Copa do Mundo e todos vão ver, eu inclusive, os que protestarem, com razão ou não, serão ignorados e execrados, e logo depois desta “festa”, virá a apoteose, as eleições, ponto alto desta tragicomédia contínua do país da bunda, com todos nós de fantasia esfarrapada correndo atrás dos caminhões de som. 

PS. Quem se choca com a bunda da camiseta, que mande fazer uma com o que goste. Cada um no seu cada qual, deixemos a hipocrisia para os pronunciamentos oficiais e para o STF...



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Eu tenho medo sim!

Uma boa parte das pessoas diz não sentirem medo. Bobagem. Eu por várias vezes disse não ter medo. Bobagem maior. Todos temos medo, é tão inerente ao ser humano como fome, frio, calor e tantos outros.

O medo não é necessariamente consciente, não é tão palpável como a fome ou o frio, mas ele é parte indivisível do animal, ser humano ou não. É a ameaça, é o redutor comum, é a base, é a síntese.

É a luz mortiça, é a ânsia e o terror do raio de sol, é o rosto do estúpido entupido de crenças, é o último resto de humanidade, é a sobrevivência, é o mergulho final.

Eu tenho medo, aliás, eu tenho vários medos, e agradeço por isto, afinal a medo exige prudência e precede providencias.

Mas meu maior medo, não é o medo selvagem, escancarado, de boca aberta cheia de dentes afiados. Meu maior medo é o da convicção cega, messiânica, entupida de certezas, grávida de filhos gerados ao relento do não pensar, frutos das relações das noites sem Lua, Sol do oposto, negação, desprovidos de sentimento, não sentem, carecem de sentido, filhos paridos nas sombras da intolerância.

Disto eu tenho medo, muito medo, um medo quase paralisante.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Não somos engraçados, nem pitorescos, acho que somos só patéticos, infelizmente...

A nossa Foz é tão pitoresca, para não falar patética, que conseguimos resgatar discussões que remetem à baixa idade média, onde os feudos determinavam a administração das terras e seus camponeses.


Minha querida Foz do Iguaçu consegue despertar em mim, os mais variados sentimentos, que vão do riso fácil, até a mais absoluta perplexidade, passando pela inevitável vergonha , até chegar exausto e deprimido até conclusão de que não nos levamos a sério.


No fundo mesmo, somos uma “Stand Up Comedy”, e sem muita graça...