terça-feira, 23 de abril de 2013

E o efeito MD na balança eleitoral?

Então amigos, tenho a impressão que este novo partido o MD (Mobilização Democrática), tem tudo para ser um sucesso ainda maior que o PSD em seu nascimento, e digo por que, pois além de terem sido dois fortes partidos, o PMN e o PPS, o primeiro ainda jovem, mas o segundo com larga tradição na politica nacional, sob outra denominação, o antigo PCB, este novo partido está sendo criado em um momento muito especial da nossa politica, tanto nacional como estadual.

Já que, mais do que os quadros já existentes nos dois partidos, este produto da fusão deles abre uma janela, ou melhor, abre uma porta imensa para os descontentes, os desalinhados, e até os oportunistas, para saírem de seus partidos sem risco de perda de mandato neste período quase pré-eleitoral, aliás, quando neste país não é um período pré-eleitoral? Eleições tem o tempo todo, governo nem sempre...

Estamos quase em campanha para presidência da República e governadores. Ora, a sinalizada polarização entre PT e PSDB, bem como uma espécie de “plebiscito” do governo Dilma, que na última eleição não tinha projeção politica própria, dependia da inegável estrela de Lula, mais do que a estrela símbolo de seu partido, agora terá que se submeter ao julgamento das urnas, por seus méritos ou deméritos, dependendo de como se vê a coisa.

No Paraná, as “costuras” iniciais, bem iniciais, caminhavam para um alinhamento similar ao do pleito anterior, talvez exceção feita ao PMDB, que sempre é um caso particular. Porém agora, este novo partido pode desequilibrar, ou se não o fizer, ao menos acelerar algumas composições que estavam sendo mantidas em banho-maria, esperando um momento mais propício para irem ao forno. 

E para Foz do Iguaçu? Bom, para nós, sei lá, coerência ideológica nunca foi a característica mais marcante dos nossos partidos, já vi tanta coisa por aqui, inclusive nas últimas eleições, que o fato de um dos partidos ter sido base do novo prefeito e o outro da então situação, não quer dizer absolutamente nada, mas vale e vale muito como uma janela mais do que bem vinda para vários dos recém-eleitos, além de dar ao atual presidente da Câmara de Vereadores, o vereador José Carlos (ex-PMN), uma dimensão e força política inimaginável há alguns anos...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Corra!!!

Corre, corre pequenino, fuja do tempo, se refugie nas dobras da fenda cronológica, se esconda por trás das lembranças que não envelhecem.

Fuja garoto, corra muito, pegue carona no vento moleque e volte em direção oposta ao relógio, corra, corra mais que sua memória lógica, corra mais que do que tudo que aprendeu, que te impuseram, corra contra seu destino.

Corra menino, corra e fuja do óbvio, do comum, do normal, do previsto, do aceito, do esperado.

Corra moleque em direção ao desconhecido, em direção ás sombras que escondem você de você, corra de encontro a você.



Outono

Valer-se das estações como metáfora de vida é um recurso gasto, bem utilizado às vezes, piegas e mal interpretado em outras, mas não creio que tenha perdido a validade, tanto quanto as estações não perderam.

O verão é luz, o nascimento, o sol, a explosão, a esperança não decifrada e não entendida, só sentida, na primavera é o amor, o “fait accompli” do verão, o legitima, lhe dá frutos, valida e transforma a inconsequência da explosão dos primeiros dias em algo perceptível, palpável, viável. 

Já o outono é a preparação, a transição, sob alguns aspectos, a estação mais importante, pois tem sobras das luzes do verão, filtradas na sua sombra sépia, namora as folhas e flores da primavera, as acompanha quando caem, e prepara o inverno, suprema metáfora do fim de ciclo, repositório da vida, resumo e síntese de fim de caminho.

O outono se presta à reflexão, ao balanço de atos e fatos, já o inverno só pede o agasalho, o calor perdido na lembrança errante das estações, onde a luz era mais forte, onde as flores e frutos eram maiores, onde a vida era uma esperança incerta, mas sempre uma esperança, na época em que o tempo era só uma expressão de passagem, sem a crueldade da cronologia implacável.



Tá difícil...

Então amigos, num passado remoto para os mais jovens, mas recente para a minha geração, as rádios FM não veiculavam comerciais. Parece absurdo né? Pois é, mas era assim. 

Muito depois, os canais a cabo, a chamada TV paga, também não veiculava, afinal, e este era o argumento, que seria um absurdo você pagar para ver comerciais. É, vão rindo, vocês, os mais novos.

E aí começou a febre da internet, que hoje é uma “forma de vida”, mais que uma ferramenta tecnológica ou qualquer coisa assim. Mas voltando ao tema, os primeiros sites, na época ninguém chamava de portais, pasmem, não tinham mensagens publicitárias, você não precisava passar meia hora fechando janelas e mais janelas, para ter acesso ao conteúdo!

Mas não parou por aqui, o atual último reduto invadido é o das redes sociais, refiro-me especialmente ao facebook, onde de cada 10 notificações que você recebe, 5 são mensagens publicitárias invadindo o seu espaço e umas 3 religiosas de todas as denominações querendo me converter...! Existem espaços próprios para veicular comerciais, não precisam ficar enchendo o saco da gente e crença não é produto de supermercado de bairro!

Bem, antigamente quando alguém reclamava da qualidade da TV, o argumento usado era o da alternativa de troca de canal, então, no caso do facebook, só me resta excluir os que passam o dia me bombardeando repetidamente com “suas maravilhas de ofertas”, eles deveriam dar-se conta de que fica registrado na sua página, não precisa postar 100 vezes!

Já não chega a praga dos aplicativos, ainda temos que aguentar os 5, 10, as vezes 15 posts seguidos de alguma “oferta imperdível”...

Vejam só amigos, o facebook é um espaço para conversa, troca de ideias, desabafos ou o que quiser, mas imagine se você, em uma roda social, para cada opinião, sua ou de outros, soa um jingle ou uma mensagem publicitária? De repente no café da manhã, seus filhos lhe dão um bom dia "num oferecimento da pizzaria delicia da titia"..., eita, tá ficando difícil!



 

sábado, 20 de abril de 2013

Um Professor

Normalmente não tenho o hábito de recomendar filmes, mas desta vez eu o farei. O filme, que em seu título em português, chama-se “O Substituto”. 

Devo dizer, sem medo de errar muito, que foi um dos melhores filmes que já assisti, pelo texto, pela profundidade, pelo ator principal, mas mais do que isto, pela avaliação crua, dolorida e indefinida do que é ser um professor.

Já fui um, aliás, sou, penso que a gente nunca deixa de ser, no máximo se afasta das salas de aula, mas ser um professor é mais que uma profissão, nem sei se é uma vocação, creio que é mais um destino irrevogável e eterno.

Não vou contar o filme, não vou estragar o prazer, se bem que não o prazer na definição cartesiana de divertimento, pois é mais um chamado à reflexão.

Tive centenas, talvez milhares de alunos, me frustrei muito mais do que me realizei, me senti impotente na maioria das vezes, mas lembro-me muito bem de alguns alunos, de algumas vitórias e de muitas derrotas. Mas estas raras vitórias escondem as derrotas, fazem com que ainda sinta saudade, fazem com que ainda me sinta um professor, foram momentos cujo brilho, por vezes fugaz, iluminou os muitos dias cinza, momentos em que, mesmo contrariando a cruel estatística, deixaram uma sensação escondida lá no fundo, mas profunda, de tudo ter valido a pena.

É, basta um aluno, uma vitória, que sempre é deles, somos apenas intermediários e facilitadores, para justificar a convicção de que é possível continuar tentando e não desistir do ser humano, principalmente os jovens, que o futuro é deles, mas passa pelo presente de nós, que um dia fomos o futuro de alguma geração. 

Se adultos formados, somos incompletos e cheios de dúvidas, o que dizer dos jovens ainda em formação e numa sociedade absolutamente confusa em termos de valores? 

Tem áreas que dispensam politicagem pobre e filosofia barata, a educação deveria ser uma delas...



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Branca,ou sei lá...

Branca, areia fina que se intromete no fundo da gente, branca, a neve eterna e a passageira, fria e bela, quente na lembrança como a areia fina que forma dunas e se deixa dissolver ao vento incerto, sem direção, sem rumo, só no sabor de sua história, de seu destino, sei lá.

Branca é a luz forte que cega e ilumina, acende cantos e recantos e quando se apaga, deixa de herança a escuridão do tatear, da substituição de sentidos, mata a visão e promove o tato, branca irreverente e incerta, cor de todas as cores, resumo canhestro, branca de todos os sentires.

Branca que é tão oposta ao preto, que é tão resumo da contradição dialética, que se torna a mesma coisa na fusão de todas as cores, morre branca na síntese do preto, mas sempre será branca, afinal é seu destino, ou sei lá...




quinta-feira, 18 de abril de 2013

Destino confesso

Se nosso destino é escrito em areia fina de praia deserta com ventos constantes, ao menos a mão que o descreveu e o que a inspirou, não se perde na poeira das dunas.

Quem não consegue ser fiel a si mesmo, nem que seja aos seus paradoxos, suas dúvidas, seus erros e acertos, suas certezas, mesmo que transitórias, nunca o será com ninguém nem a nada, tapar o espelho com véus de arrogância, disfarçando-a em autossuficiência, não anula a imagem refletida, ela só não é mais vista por você mesmo.




quarta-feira, 17 de abril de 2013

Hoje

No começo despenca com muito barulho, depois só cai com um som surdo, mais tarde desliza sibilando, e no fim escorre lentamente e em silêncio até esgotar.

As chuvas de março são as garoas de junho, o ciclo pode atrasar, ser preguiçoso, ser impontual e rebelde, mas sempre é um ciclo que se repete indefinidamente, inexoravelmente e "impontualmente", mas sempre definitivo enquanto ciclo.

Nos procuramos tanto nos espelhos, com tanta atenção e frequência, que esquecemos que a imagem é invertida, e ainda, que os tempos são só medidas de nossas expectativas, a ansiedade de ontem, pode ser a resignação de amanhã, na eterna espera de hoje, que é o que no fundo, importa.

Você pode viver acorrentado ao passado ou na expectativa obsessiva do futuro, mas a vivência destes sentimentos é e sempre será, o hoje.



terça-feira, 16 de abril de 2013

Hospital Municipal: Quando dois elefantes brigam...

Bem, o que dizer deste caso cabeludo do Hospital Municipal?

Pois é, uma turma diz que a culpa é do Paulo, já outra que a culpa é da morosidade do Reni em buscar uma solução.

Os argumentos se atropelam, chovem razões e explicações, brotam acusações, ouve-se ranger de dentes e lamentos sofridos, tá, tá bom, mas desculpem-me, não vou me deter em analisar razões e justificativas, o que importa mesmo, o que vale mesmo, é o risco que a população está correndo em não ter o Hospital.

Se tem alguém que não tem culpa nenhuma, que nada pode fazer e nem em nada contribuiu para esta situação, é a população, que precisa dos serviços e assiste apavorada esta troca de tiros.

É como reza um antigo provérbio africano, “Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama...”


 

sábado, 13 de abril de 2013

PEC 37: Da impunidade ao sofá queimado, e segue a inflação...

Pois é amigos, este é tipo de assunto que logo vira bandeira apaixonada e de cunho político-partidário, fazendo com que a essência do tema se perca nos desvairos radicais, me refiro à questão da PEC 37.

Em principio sou contra, pois sou contra qualquer forma de mordaça e cerceamento da função de fiscalização do executivo, a última salvaguarda que temos contra o pior tipo de arbítrio, aquele que é feito sob o guarda chuva da legalidade, contra o que de nada adianta rebelar-se e nem queixar-se, pois se esconde atrás do argumento canalha de ser legitimado pelo voto, como se uma eleição fosse um processo de canonização, e quem questionar pode ser excomungado pelas patrulhas ideológicas histéricas que adoram um “dogmazinho” a seu favor... 

Apesar de considerar um argumento cretino a favor da malfadada PEC , sou obrigado a concordar com a indignação acerca dos exageros de alguns membros do ministério público, que não podem ver um jornalista e desandam a acusar qualquer um, numa condenação prévia que não lhes cabe, e que, infelizmente, soa aos ouvidos da maioria da população como uma condenação. Muitos inocentes já foram vítimas deste açodamento.

No entanto, creio que nunca devemos confundir a instituição com alguns de seus membros, e isto vale para qualquer atividade profissional, seja pública ou privada, este comportamento de condenação da instituição, além dos motivos inconfessáveis e sabidos favorecendo a impunidade, e que devem estar por trás desta PEC absurda, ela também soa como a velha piada do marido traído, que ao ver a esposa com outro no sofá, mandou queimar o sofá... 

É, o pior é que do caso Pastor deputado Feliciano a PEC 37, segue a procissão, convenientemente cega à inflação crescente e outros assuntos de maior importância, varridos para baixo do tapete da voracidade da mídia instantânea e comprometida.



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Néon

Quando o néon é bom, toda a noite é noite de luar...

Trecho da música “Piano Bar” dos Engenheiros do Havaí, é emblemática, a noite vive do néon, da luz que a gente enxerga, da luz que a gente quer ver, da luz da nossa expectativa, sem a crueza real do dia, do sol verdugo que desmascara e faz das sombras do dia meras projeções, faz com que as silhuetas sejam óbvias e em dimensão simples.

A noite permite a entrevisão, a espreita de nós mesmos, o espiar por baixo das coisas, o viés proibido, o imaginário faz da noite seu reino de poucas horas e muitos sonhos, na noite eu vejo, eu te sei, eu te encontro, eu te sou, eu te fui, na noite, só na noite, por algumas noites, por noite nenhuma, mas sonhos não tem noites, sonhos são filhos da noite.


Um labirinto

É um labirinto de sons, cheiros, sorrisos, carne e sonhos, um labirinto sem paredes, um labirinto de vontades, de desejos e renúncias, um labirinto de nuvens, de névoa permanente, um labirinto de vida e morte, um labirinto sem saídas, de entrada esquecida, um labirinto perdido na poeira dos tempos, um labirinto de vontade própria, que se refaz todo o dia, um labirinto que se alimenta dos perdidos nele.

A luz não brilha mais no labirinto, ela se perdeu em seu enigma, ela se perdeu em suas nuances e armadilhas, ela brilha envergonhada só para si mesma, perdida em sua razão.

É um labirinto como qualquer outro, tão único que pode ser todos.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Uma dança obscena

Como numa trilha de capão de mato, entre cipós e galhos quebrados, abrindo caminho no capim alto, vamos seguindo caminho, com uma leve e duvidosa noção de norte, pois se a bússola o aponta de dia, a estrela da noite desmente.

Carregando o sono sonho, debruçado no espelho, riscando rios, misturando a imagem, traindo o reflexo, segue a estrada sem margens, traçada no imaginário da poeira acumulada.

O perfume dos sons enche o ar rarefeito da visão míope, tudo se mistura, tudo é uma mescla homogênea, que paradoxalmente revela suas cores e nuances, enfim é só a dança sensual e obscena do surreal com o supra real, com corpos mal definidos, a não ser no denominador incomum do desejo incontido e irrealizado.






domingo, 7 de abril de 2013

Da praga do politicamente correto a dicotomia enlatada e vencida

O politicamente correto é uma das formas mais castrantes e covardes de censura, porque é disfarçada por uma fantasia de falsa moral e bons costumes de discutível senso comum e, salvo algumas raras e honrosas exceções, se esconde atrás de grupelhos, que no seu plural, buscam um anonimato que não teriam coragem de assumir no singular.

Se comportam como boiada na anuência, e como matilhas no ataque, que se atiram a uma presa, fazendo o que não teriam segurança moral para fazer se sós fossem e, que estão fazendo com que este país regrida para uma moral vitoriana e de um conservadorismo hipócrita como não se via há algumas décadas. Os humoristas, os colunistas daquele período, até o Pasquim, seriam todos processados hoje por esta patrulha feroz e stalinista, que se alimenta dos ódios que provoca nas redes sociais, onde o reflexão nunca dura mais que um segundo antes do impulso de curtir, compartilhar e até postar sobre qualquer asneira que apareça.

E mais, "politizam" tudo, e alimentam uma falsa dicotomia entre direita e esquerda, que não existe mais neste país, e tenho dúvidas se alguma vez existiu em sua definição cartesiana, pois me parece, a luz da história recente, que salvo os mártires de todo tipo autoritarismo, sobram somente grupos, ou bandos, que movem cordões, brigando pelos fartos nacos da gorda e plácida vaca nacional.

Autoritarismo é autoritarismo, ditadura é ditadura, seja a militar, seja a de Getúlio Vargas, o resto é revisionismo oportunista, e isto sem falar na ditadura que dura 500 anos, a dos "eternos donatários das capitanias" que ainda seguram bem firme na mão os cordões da bolsa nacional, pois é muito difícil se eleger sem eles e é impossível governar contra eles.

E antes que me linchem, devo lembrar aos pseudo-puristas, dos históricos e malfadados acordos, sob o guarda-chuva canalha da governabilidade e viabilidade eleitoral, tais como os entre Brizola e Golbery, Maluf e Lula e Sarney com todo mundo, só para citar uns poucos, e se trouxermos para nossa aldeia, poderíamos citar um dezena de outros, tão espúrios quanto, tão cínicos quanto e tão oportunistas quanto.

Portanto, não me venham falar de ideologia, de pureza politica e outros slogans pré-fabricados para alimentar e municiar a militância paga, pois neste país de Gugu, Faustão, BBB e Zorra Total, tentativas de definição entre direita e esquerda, no máximo podem ser usadas para determinar maior ou menor habilidade nos membros superiores e inferiores, portanto, me poupem, pensem um pouco, pensem mais por si mesmos!



sexta-feira, 5 de abril de 2013

Biologia é destino, o resto é semântica...

Pode parecer óbvio para alguns, ingênuo para outros, talvez piegas para muitos, mas não importa, a verdade é que a vida da gente é frágil, muito mais frágil que do que nossa vaidade e orgulho possam admitir.

A gente passa uma boa parte da vida construindo uma imagem, para si, para os amigos, amores, e até, e em muitos casos, para os desafetos, adversários, quem sabe inimigos, apesar desta ser uma palavra forte.

Dependemos de uma máquina mais delicada e falível do que nossa arrogância mortal e humana gostaria de admitir, pois mais do que possamos reunir um imenso cabedal de sentimentos, de conhecimentos, de certezas, de dúvidas, ainda somos carne querendo ser aço, no fundo somos tão crianças quanto éramos ao nascer e tão nus quanto tantas são as roupas que vestimos.

Somos o que podemos ser, somos reféns de nossa condição biológica, que é analfabeta e não tem renda, posição politica, cargo ou vaidade, e todos estes adereços que jogamos nas costas desta condição, sem nos importarmos com o preço deste esforço, e ainda nos surpreendemos quando a conta chega.



quinta-feira, 4 de abril de 2013

Só um sonho como outro qualquer, ou não?

Era um bar, um boteco como outro qualquer, nem melhor, nem pior, talvez um pouco mais sujo, mais mal iluminado, mais mal localizado, mas nada além de um bar como outro qualquer.

Chão de cor indefinida, como a vida que lá existia, balcão de fórmica gasta, de uma cor que talvez um dia, sob o olhar orgulhoso do proprietário, até fosse azul, hoje, era pálido como o dono que dormitava entre copos não recolhidos e moscas que vicejavam num festim pobre de restos dos poucos e rachados pratos em cima do balcão.

Prateleiras, duas para tentar ser exato, onde garrafas de bebidas baratas brilhavam como neon aos olhos de quem lá entrava, cintilavam mais que os copos sujos e empilhados num canto escuro que não permitia identificar sua origem e estado real.

Quatro mesas, cercadas de cadeiras desiguais, como se fossem acólitos cansados de uma rainha destronada e recolhidos ao acaso naquela última homenagem. Uma mesa vazia, embaixo de um pôster da seleção brasileira de 1970, amarelado e nostálgico a evocar glórias passadas, ecos de outra época, mas ecos sem voz, ecos de olhar triste.

Numa mesa, um casal. Não se falavam e nem se olhavam, mutuamente se excluindo, não por raiva ou ressentimento, mas por falta do que unir, só a cerveja sorvida sem pressa e sem prazer, era o elo. Em outra, uma pessoa, um homem de idade indefinida, com o ar da rendição, não o da renúncia consciente, ou da derrota sentida, não, era o da desistência não percebida, do não importa mais, do esqueci porque estou aqui.

E por último, ao apertar os olhos, tentando ver através da fumaça dos cigarros, pensei ter visto Fante, Kerouac e Bukowski, que entre goles de Bourbon e imprecações rejeitavam a sociedade que não os queira, mandavam à merda as convenções na valentia dos bêbados, e riscavam na toalha imunda as bases do novo mundo, da uma nova era que todos sabiam que nunca chegaria.

Quando me levantei para brindar a isto, a fumaça se dissipou com um vento impertinente que soprava da rua escura, e eles tinham sumido, substituídos por dois motoristas de ônibus que dividiam a ultima cerveja da noite quase dia, entre mordidas desanimadas em pastéis que conheceram épocas melhores.

O dia brigava com uma noite relutante e o sol insistia por trás de nuvens carregadas, a exigir sua presença. Ao clarear o bar sumiu com seus personagens, em seu lugar, uma lotérica, com filas de sonhos e contas a pagar, acordei.

Teria sonhado com isto, ou o sonho foi o do dia? Nunca saberei, não mais voltei lá, nem me importa saber, afinal era só um bar, um boteco, nem melhor, nem pior...



quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ainda sobrou algum "ismo" além deste?

Não me considero um radical, pois tenho uma boa dose de desconfiança, com base na minha experiência de vida, de todos os “ismos”, que hoje me soam como profissões de fé, estas coisas meio messiânicas, que parecem bobas e colegiais, mas acabam se revelando assustadoras, e não faltam exemplos por aí.

E como tenho um ponto de vista mais ou menos formado, mas sempre posso mudar sobre isto, estes “ismos apaixonados”, parecem-me com doenças infantis, tais como sarampo, rubéola e outras, que se você as contrair na infância ou como muito jovem ainda, fazem parte do processo de imunização, mas se as contrair depois de uma certa idade, podem matar.

Mas, e sempre existe um incômodo “mas”, sem o "mas", a humanidade nem teria descoberto o fogo, a falta de vergonha que a gente assiste na mídia, supera a paciência até de um santo meio obtuso e distraído.

Vejam esta questão da Copa, não tem um dia que não se fale em atrasos com o inevitável estouro de orçamento na perversa sequencia do processo, perversa para nós que pagamos a conta, bem entendido. E não para por aí, tem a questão da saúde, pauta obrigatória porque sensibiliza até o mais cínico e troglodita dos telespectadores, e nada é feito, nada muda, o problema parece acabar na hora em que começa a novela.

Que receita usar, que “ismo” devemos tirar das gavetas das ideologias esquecidas e superadas, ou devemos continuar com este estado de coma moral, babando diante da TV, com o BBB, novelas,o futebol e todo este circo que está a nossa disposição?

Eu acho, infelizmente, que dos “ismos”, só sobrou o conformismo...  




terça-feira, 2 de abril de 2013

A pedidos, e insistentes, falando de política local...

Tá bom amigos curiosos, muitos de vocês tem me perguntado, e alguns com uma certa dose de malicia, por que não tenho falado da politica local e de seus temas, principalmente sobre a atuação no prefeito atual, visto que já estive, se bem que nos bastidores, dos dois lados, o executivo e o legislativo.

Ok, vamos por partes, em primeiro lugar, sobre o prefeito, votei nele, meu partido, o PSDB, foi um aliado vital, fornecendo inclusive a vice-prefeita, um nome acima de qualquer contestação, além de um generoso e fundamental espaço na TV e rádio. Portanto, tenho que apostar e aposto neste governo até prova em contrário, e ainda acho cedo para ter opiniões definitivas, já que ainda estão na fase de descobrir onde estão as salas, onde guardam as canetas e estas coisas de inicio de governo.

Bem, em segundo lugar, o primeiro ano é sempre complicado para se fazer juízo de valor, pois é o período em que se imprime sua assinatura de gestão, com uma caneta ainda um pouco capenga e com boa parte da tinta herdada da gestão anterior, leia-se orçamento e obras em andamento.

Em terceiro lugar, desde a eleição da nova mesa da Câmara, com quase unanimidade, exceção do vereador Bobato, que me sinto um pouco desconfortável, pois não creio muito, em função de minha experiência anterior, em unanimidades como esta, se estiver enganado antecipo meu pedido de perdão, mas acho que elas sempre trazem por trás da porta, acordos, que não precisam ser espúrios, mas que por não serem públicos, me incomodam um pouco, só um pouco, já vivi isto.

E por fim, vejo e lamento algumas oportunidades perdidas por alguns de nossos bravos edis, que deveriam refletir um pouco mais, com mais vagar, com menos ansiedade, sobre ações que poderiam fazer a diferença na comunidade, mas nada como o tempo e a experiência para dar, senão sabedoria, ao menos prudência.

Espero ter respondido aos caros amigos, se fui confuso, perdão, clareza e síntese nunca foi o meu forte...




segunda-feira, 1 de abril de 2013

No colo da noite

De todos os abraços que passaram pelos meus braços, nenhum pode marcar o compasso do que faço.

Da rima fácil ao silêncio morno, vai seguindo a coerência da minha incoerência, impávida e retilínea como só as curvas podem ser, tropeçando nas certezas e caindo no colo farto da minha racionalização, e entre um gole e outro de um vinho barato, através da fumaça do cigarro pela metade, traço espirais para me distrair e confundir um cérebro ansioso e ávido de conclusões que não quero chegar, não posso chegar e não sei chegar.

Deitado no colo da noite sou refém e pai relutante de minhas escolhas, ora tolerando-as, ora refutando-as, mas mantendo-as sempre sob as asas da minha resignação, alimento-as avaro e severo, mas constante, enquanto brinco de pensar entre a fumaça hesitante que busca o ar que a molda.