segunda-feira, 22 de abril de 2013

Outono

Valer-se das estações como metáfora de vida é um recurso gasto, bem utilizado às vezes, piegas e mal interpretado em outras, mas não creio que tenha perdido a validade, tanto quanto as estações não perderam.

O verão é luz, o nascimento, o sol, a explosão, a esperança não decifrada e não entendida, só sentida, na primavera é o amor, o “fait accompli” do verão, o legitima, lhe dá frutos, valida e transforma a inconsequência da explosão dos primeiros dias em algo perceptível, palpável, viável. 

Já o outono é a preparação, a transição, sob alguns aspectos, a estação mais importante, pois tem sobras das luzes do verão, filtradas na sua sombra sépia, namora as folhas e flores da primavera, as acompanha quando caem, e prepara o inverno, suprema metáfora do fim de ciclo, repositório da vida, resumo e síntese de fim de caminho.

O outono se presta à reflexão, ao balanço de atos e fatos, já o inverno só pede o agasalho, o calor perdido na lembrança errante das estações, onde a luz era mais forte, onde as flores e frutos eram maiores, onde a vida era uma esperança incerta, mas sempre uma esperança, na época em que o tempo era só uma expressão de passagem, sem a crueldade da cronologia implacável.