Do que afinal estamos falando quando dizemos que tudo passa, que o tempo cura feridas, de uma bela e convincente metáfora ou de uma tentativa de falar sobre alguma coisa que incomoda, mas que preferimos racionalizar em nosso íntimo?
Está na natureza humana o racionalizar, é uma forma de melhor suportar, ou se isto for muito difícil, de melhor entender o que nos choca, o que nos surpreende, nos frustra ou algo similar.
Nunca, nem ninguém, salvo os masoquistas ou portadores de patologias similares, está preparado para a decepção, não é do ser humano normal buscar de forma consciente a punição, pois mesmo com séculos de doutrina religiosa enfatizando a culpa como condição humana, ainda assim, ao menos para os ditos normais, a culpa cega deveria um corpo estranho, daí que ansiar por punição pode ser um indicador de desequilíbrio.
Já escrevi por aqui, neste blog mesmo, que creio sermos muito lenientes conosco, e é normal, se não nos perdoarmos, como esperar que outros o façam?
Mas creio que mesmo esta leniência deva ter limites, senão os seus reflexos acabam atropelando terceiros que passam por nosso caminho, é neste tênue limite entre “ser assim” e “ser egoísta”, o egoísmo, não na forma pejorativa, quase o de uma ofensa, mas no sentido do culto excessivo ao próprio ego, mesmo que “próprio ego” possa ser uma terrível redundância, a expressão serve como ênfase para comportamentos aparentemente contraditórios, mas que na verdade não o são, são confirmações de razões, que podem até ser inconscientes, mas que são razões nascidas do aprendizado, do comportamento repetido, do conjunto de ações, de visões, ou caráter, sei lá como isto possa ser chamado, não sou um especialista na área, só um curioso diletante.
A verdade é que nada é fortuito, ou fruto de motivações internas incompatíveis conosco, são compatíveis sim, podem não ser percebidas como tal, mas o conjunto de atitudes repetidas confirma esta postura, a repetição abusiva da eterna equação da “ação + arrependimento = perdão = nova ação + arrependimento etc.”, foi um subterfúgio muito usado pelas religiões oficiais, como forma de prevalência e de culto à culpa, cuja gestão permitia o controle dos crentes e sua consequente subserviência. Sempre serviu com indulto prévio para quaisquer ações, pois o perdão vinha, acompanhado ou não de sanções, o custo variava, mas vinha sempre, era mais fácil ser culpado do que ser responsável.
A grande verdade é que quando não se pode explicar algo, passamos à agressão ou ao arrependimento choroso e o lamento de autocompaixão, quando em nenhum dos casos a verdadeira questão é abordada de frente, são só reflexos, na verdade reflexos da imagem de um espelho distorcido ou reflexos de traumas, etc., como preferirmos em nossos exercícios rotineiros de autoindulgência, pois ter a coragem de ver-se sem adereços e perdões prévios é uma coisa difícil, custosa e na maioria das vezes dolorida, mas importante para quem quer saber-se um pouco mais e não somente achar-se.
Crescer sempre dói.
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