quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Não existe mentira sem verdade

Existem expressões incríveis neste nosso rico, rude, curioso e confuso idioma, filho bastardo do latim vulgar com o galego-celta, que o mundo não entende.

Uma delas é o “na verdade”, que costuma abrir frases sobre qualquer coisa. Ora, ao iniciar uma sentença, uma afirmação, com o “na verdade”, está embutido, consciente ou inconscientemente, o pressuposto de que sem esta ressalva, tudo o que será dito, inevitavelmente será mentira.

E o mais espantoso é que já ouvi esta abertura de muitas pessoas, apesar de ter uma dose bem razoável de certeza de que não estavam mentindo.

Mais sem fugir ao assunto de verdades versus mentiras, “na verdade”, é que as verdades sempre doem, se não fossem doloridas, se não implicassem em consequências, não existiria a mentira, afinal, se pensarmos de forma cínica até, veremos que a mentira é uma espécie de unguento anestesiante da verdade. Tem pouca duração, age somente na consequência, ignora a causa, mas propicia alívio, momentâneo na maioria das vezes, mas eficaz mesmo em sua provisoriedade.

Mas falar a verdade não é desculpa, é uma questão de caráter, pois a verdade não desculpa, não redime, só atenua e reforça a confiança, mas não diminui a dor. Falar a verdade é meritório, mas mais meritório ainda é evitar a verdade que ela encerra, não a gerando, assim ela não existirá e nem sua filha adulterina, a mentira.

Não existe mentira sem verdade.



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