Ela estava sentada em um ponto de ônibus, não pedia nada a ninguém, as roupas eram bem humildes, mas pareciam limpas e bem cuidadas, o sol castigava quem lá estava, inclemente como o descaso do poder público que não liga para quem espera em pontos de ônibus.
Mas não é esta a consideração que quero fazer, em que pese querer muito que estes gestores um dia precisem do transporte coletivo e que sintam na pele este desrespeito continuado para com a população.
O que me impressionou foi olhar dela, seco, vazio e sem a centelha da esperança. A esperança pode ser uma ilusão, e muitas vezes o é, mas é a barreira que nos separa do desencanto com a vida. Quando se perde a esperança, perde-se a última alternativa, perde-se o sonho, perde-se a razão de tentar, deixa-se de viver, passa-se a existir, renuncia-se ao protagonismo, assume-se a figuração, passamos a ser parte da paisagem, passamos a ser moldura, deixamos de ser ato e viramos fato passivo, rifamos o nosso lugar, renunciamos a nós mesmos.
A esperança se vista e analisada no seu foco, pode ser até estúpida e ilusória, mas sentir esperança é o que nos faz viver e tentar, sempre mais uma vez, e outra vez, e mais outra, até sempre, até que nos afoguemos nela.

Um comentário:
Sem esperança, como disse, praticamente não existe vida.
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