quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Lamento

Lamento. Morre uma das mais importantes vozes do jornalismo econômico "descomplicado", que nunca precisou de "dialetos pretensiosos" para expor uma ideia, uma posição, dar uma opinião.

Não creio que deixe sucessores com a mesma característica, o que é uma pena na minha visão.

Joelmir Beting (1936 - 2012)




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Soneto da Fidelidade, perdão Vinicius...

De tudo ao meu amor serei atento (menos na hora do futebol), 

Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto, que mesmo em face ao menor encanto (salvo uma caixa de cerveja gelada), dele se encante mais meu pensamento (se não estiver ocupado com a carne na churrasqueira), 

Quero vivê-lo em cada vão momento, e em seu louvor hei de espalhar meu canto (não na sesta depois da comida) e rir meu riso (quando o Grêmio ganha) e derramar meu pranto (quando vejo a Xuxa e o Faustão) ao seu pesar e contentamento (Vinicius não tinha DVD),

E assim quando mais tarde me procure (os credores furiosos), quem sabe a morte, angústia de quem vive (preciso parar de beber), quem sabe a solidão fim de quem ama (Oba!!!), 

Possa me dizer do amor que tive, que não seja imortal (olha o Grêmio de novo) posto que é chama (e às vezes arde demais), mas que seja infinito enquanto dure. (é, bem assim...rsrsrs)

Depois desta mereço 10 anos de prisão lendo os poemas do Pedro Bial e escutando músicas do Pelé...

 


 

Perdão mestre!

sábado, 24 de novembro de 2012

Arquivos ou quartos de despejo?

Tem momentos em que você duvida do que sabe, duvida da bagagem acumulada ao longo do tempo. Veja só, quando você arruma um armário, uma gaveta, a tendência é manter coisas que você sabe que nunca vai usar, o que faz com que você não as descarte? 

O apego é uma coisa estranha, não tem razões lógicas, pertence ao inconsciente, que se manifesta no consciente nas mais diversas formas, com num sentido sem sentido parecido como o do sonho, está lá, e com uma lógica própria.

Por vezes penso em arquivos, mas logo descarto em favor de um quarto de despejo, de um quarto em que você joga coisas, na expectativa de um dia usá-las ou entendê-las. Penso que a razão, se é que existe, que nos faz agirmos assim é a expectativa indefinida, não catalogada, de alguma coisa não resolvida e sem saber por que.

Não sei se somos reféns de perguntas ou de respostas, as perguntas honestas são fruto da curiosidade pura, as respostas podem ser produtos de busca dirigida, afinal existem mais respostas que perguntas, e todas em busca de perguntas que as justifiquem.

Penso que ao invés da pergunta que não quer calar, o dilema maior é a resposta que busca sua razão e origem, aquela que busca a pergunta que não nasceu da dúvida e nem da curiosidade, mas da inquietação indefinida.




sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A pauta da hora

Então amigos, está aberta a temporada de especulações sobre o secretariado do prefeito eleito. Como pauta, sem dúvida é um grande assunto e que merece bastante espaço, mas a rigor, no chamado frigir dos ovos, quem manda é o prefeito, e por mais acordos a cumprir e composições a fazer que tenha, quem manda é ele, e o seu secretariado deve refletir sua expectativa sobre como ele pensa a cidade. 

Portanto, a meu juízo, o mais importante é ouvir de Reni Pereira, o que ele pretende fazer e em que prazo, ai sim, teremos um sinal do acerto ou do erro no voto, no meu caso, que abri meu voto, espero e creio que tenha sido um acerto, mas suas ações e o resultado delas é que vão confirmar ou desmentir o que digo.

Então, sigamos na pauta válida, mas sem perder o foco no que realmente importa.


 

Ilhas, pontes e comportamentos...

É muito curiosa esta dança sem música de sentimentos variados e conflitantes. Quando a gente acompanha os posts nas redes sociais, hoje mais o facebook que qualquer outra, é possível constatar-se isto.

Desde manifestações, algumas até patéticas na súplica quase infantil, religiosas, até manifestações de independência em relação à sentimentos básicos, que ao contrário do que pretendem, só mostram a dependência deles.

Ninguém nega o que não existe, estas pseudo catarses, de curto folego e larga emoção, só evidenciam a necessidade que as pessoas têm de exorcizar-se o tempo todo. Nada contra, acho até ótimo que isto aconteça, pois ajuda a evitar que traumas se criem maiores do que poderiam vir a ser, o que questiono, aliás, não questiono, só acho curioso, é a importância que é dada a estas manifestações.

Seja como for, é fascinante observar esta nudez que as pessoas mostram, mas, é claro, nudez de peças escolhidas, nada é como é, quando muito é como as pessoas gostariam que fosse. No fundo agimos todos como ilhas de discurso individualista e a procura desesperada de pontes que nos unam.


 

Amanhã, imperdível!!!!!


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Um certo cuidado nunca é demasiado, foco é tudo...

Tomando por base diversas ações dos governos em vários níveis e em várias épocas, é inevitável, ao menos para mim, fazer a seguinte pergunta:

De que adiantam estas manifestações populares?

Sim, porque acredito que a maior e mais eficaz é aquela que é feita através do voto.

É a grande solução?

Muito provavelmente não, mas é a mais contundente. Trazendo esta questão para a nossa cidade, tenho acompanhado a mobilização visando um protesto contra o aumento das tarifas de transporte coletivo. Certo, justo, louvável, mas quem está determinando esta tarifa foi um gestor eleito pelo povo.

Não foi ninguém imposto por algum governo autoritário, e eu já vivi esta impotência, sei bem como é. Mas agora não, agora é diferente, discutível ou não, moral ou não, justo ou não, é uma prerrogativa dada por nós mesmos que o legitimamos, votando contra ou a favor, ao participarmos de um pleito.

Cabe o protesto? Sim, cabe e sempre caberá, mas penso que deva ser objetivo e dirigido ao fulcro da questão, sem outras considerações, até porque o resultado das ultimas eleições já determinou a mudança.

O que cabe, a meu juízo, é avaliar de que forma esta pressão será exercida e se terá resultados, caso contrário, a própria e poderosa ideia da mobilização popular acaba por se perder na vala comum do reclamo estéril, que com o tempo entra no rol das frustrações e decepções que determinam, e muito, o desencanto da população com as coisas da política, tendendo a tratá-la como coisa a parte, o que não é e nem nunca deveria ser.


 

sábado, 17 de novembro de 2012

Quebra-cabeça ou quebra cabeça...

Não conheço um compasso para explicar o que faço, não há compasso que justifique o que passo, o passo do meu compasso é o que faço.

Mastigando e remoendo palavras com sentidos isolados como ilhas sem pontes. Construindo navios para visitá-las, ligando-as na minha memória, pontes de ar sobre mares remotos, ilhas perdidas nos mapas de minha expectativa.

Vejo, esqueço, lembro, perco, viajo, volto, vou até onde ninguém foi, nem eu, lembro-me do que não vivi, esqueço o que nunca lembrei, perco o que nunca tive, sou sem ter sido.

Vou montado na minha incoerência, levando a bandeira da incompreensão contra os cruéis moinhos de vento de minha lucidez perdida, não busco o sentido e sim o sentindo.


 

O óbvio

Nada é menos óbvio que o óbvio. O óbvio exige o consenso, impõe, cobra, mas o que é óbvio?

O que faz sentido, o que faz sentido para nós, o que faz sentido para os outros?

O óbvio é autoritário, exige respeito, exige aceitação, não admite contestação, é imperioso e tirânico.

Oferece o conforto da vala comum das angústias indefinidas, vive da ânsia da aceitação, vive do espaço que todos buscamos.

O óbvio é um parasita da insegurança humana., e não faltam os arautos a anunciá-lo...



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ícaro

Acho que no fundo todos nós temos um pouco de Ícaro, heróis embriagados da ilusão de voar. 

Cortejamos o sol, com a insensatez dos apaixonados, queremos ir além dos sonhos mais loucos, desafiar o impossível, somos atraídos pelo drama impensado.

Queimamos na fogueira das vontades, as regras e limites que juramos respeitar, mentimos sobre a cera que cola as asas de nossos delírios, e voamos na certeza insana do equilibrista bêbado, cego ao perigo que do chão duro e com os olhos no sol desejado.

De todas as criaturas de Deus, somos os únicos que nos orgulhamos de pensar, no entanto, na primeira fresta que se abre na frágil couraça com que nos cobrimos, vem à tona o grito primal, e os instintos passam nos guiar, continuamos primitivos na essência mesmo que tenhamos tanto cuidado com a forma.


 

Existencialismo

“Não, o amor sabe tanto quanto qualquer um, ciente de tudo aquilo que a desconfiança sabe, mas sem ser desconfiado; ele sabe tudo o que a experiência sabe, mas ele sabe ao mesmo tempo que o que chamamos de experiência é propriamente aquela mistura de desconfiança e amor…

Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiência acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber."

Soren Kierkegaard - filósofo dinamarquês (1813-1855) - Precursor do existencialismo.

 


 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Nada não, só pensando alto...

Já fiz muita coisa, já vi e vivi outras tantas, muitas coisas não fiz e me arrependo, outras fiz e me arrependo também, de outras sei que acertei, mas muita coisa ainda quero fazer, quero continuar a tentar e errar e acertar novamente, pois entendo que esta é a condição de quem anda.

Aprendi com alguns erros, mas depois errei de novo, pois pareceu que o aprendizado foi só um confuso consolo, outros nunca mais repeti. Tive acertos, repeti algumas coisas buscando novos acertos, em alguns casos deu certo e em outros não.

Nunca busquei fórmulas de bem viver, nunca acreditei que houvesse fórmula de bem viver, a gente recolhe coisas e as guarda nos bolsos da mente, e usa quando cabe, às vezes nunca usa, mais guarda mesmo assim, e por que? Não sei, nunca soube e hoje nem lembro mais porque guardei um dia, quem sabe quando precisar de algo que não saiba bem o que é, eu lembre porque as guardei.

Não confio muito em ditados, duvido de receitas definitivas, não gosto de roteiros rígidos,não por arrogância e orgulho, mas por ser curioso, e curiosidade não combina muito com regras cartesianas.  

Por mais clichê que soe, e o é, viver é uma aventura permanente, e creio que viver sem certezas absolutas é a adrenalina da vida.

No mais, pouco a dizer, muito a lembrar, outro tanto a esquecer, mais coisas a conhecer e outro tanto a entender, e de tantos e pedras pequenas, segue o barco navegando, sem um rumo muito certo e nem tão lógico, por mares calmos e tempestades, de tudo um pouco, de um pouco tudo.


 

...

É, assim é, que assim seja.




quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O tempo é o senhor da razão?

Em tudo, com tudo e por tudo, nada do que é, deixa de ser, o foi não existe, é somente é uma acomodação cronológica, serve para melhor arquivar as coisas, mas elas continuam vivas a espera algo que poderá nunca acontecer, mas que continua a reclamar seu espaço.

As medidas do tempo nos situam e aprisionam, estabelecem graus de intensidade, resolvem pendências, definem prioridades, catalogam sentimentos, propõem cursos de ação, moderam as emoções, mas as experiências continuam vivas e sempre estarão.

Dizem que o tempo é o senhor da razão. Não concordo. 

Creio que o tempo seja um arquivista inepto da emoção.




terça-feira, 13 de novembro de 2012

Cai

Cai, treme, vacila e cai;

Seca, despenca do galho e cai;

Vida cessa, interrompe e cai;

Verde, menos verde, escuro e cai;

Cai e deixa no seu espaço o novo espaço;

Deixa no seu espaço o acaso de um novo regaço;

Deixa a promessa inexata do recomeço e cai;

Cai com o estrondo das coisas sem peso, o barulho cada um percebe conforme sua percepção, mas sabe que caiu.


 

Alegria

Alegria, então, muita gente associa alegria à felicidade de forma tão próxima que chegam a soar como sinônimos. Penso que não, creio que a alegria uma manifestação mais ruidosa da felicidade.

Como se felicidade fosse um sorriso calmo e sábio, de uma bela senhora segura do que é, fez e do que será, olha a vida com olhos misericordiosos e ri sem escárnio de nossas vãs angústias.

Já alegria é a menina esfuziante que se admira no espelho e rodopia pela sala ao som de uma música que só existe em sua cabeça, vê luzes no escuro e grita o seu estado através de sorrisos largos de quem ganhou o mundo.

A alegria é colorida sem pudor, abusa das cores e sons, proclama seu estado, é o desabafo da alma, a alegria é a redenção do avesso da vida, é afirmação da criança eterna. A alegria tem cheiro de flores, brilha como um sol num céu sem nuvens e tem gosto de chocolate.

A alegria é a mão armada, com um sorriso, da felicidade.


 

Raiva

A raiva é um sentimento muito forte e poderoso, que por diversas vezes mudou o mundo, menos que o amor, mas com ele sempre disputou o primeiro lugar deste duvidoso ranking.

A raiva tem vários pais, é herdeira do que é justo e injusto, não tem compromisso com a ética e nem com a lógica, é uma força incontrolável da natureza, é consequência e causa, é último estágio, ou como querem os desequilibrados, o penúltimo, pois pode anteceder a agressão.

Dentre as razões da raiva, tem uma que é curiosa, curiosa por ser dúbia, por ser tão força da natureza quanto à raiva que a sucede, é a mágoa, que tem várias mães, e dentre elas a mais possessiva, a expectativa.

A mágoa é lenta, corrosiva, se instala e vai roendo de dentro para fora, no inicio você só percebe o desconforto, depois ela explode para fora e deixa a mostra suas feridas. Não creio que exista cura rápida para a mágoa, nem se existe cura de alguma espécie, penso que exista sim “analgésicos”, que não atuam na causa, só atenuam as consequências, e dentre eles o tempo parece ser o mais eficaz.

A raiva neste caso funciona como quase um placebo, mas paradoxalmente um placebo perigoso, com efeitos colaterais, mas que funciona só em curto espaço de tempo, e leva muito tempo para apagar seus efeitos.

É, a vida é tão simples, mas tão simples, que se torna muito difícil entendê-la.


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Confiança

Confiança é uma coisa difícil de definir, quase etérea, absolutamente abstrata, impalpável, mas real e dura como o aço. Ela verga, resiste e insiste, mas quando quebra nada pode consertar, é preciso derreter o metal e refazer o processo na sua origem, sem qualquer outro resquício do que ele era, em sua forma anterior, leva-lo ao denominador comum do esquecimento.

Confiar é dar-se, é transformar-se no objeto de sua confiança, confiar em alguém ou alguma coisa é antes de tudo confiar em si mesmo, daí a enorme dificuldade em lidar com a quebra dela. Parte de você volta para a forja, e outra forma virá, que pode vir a ser maior, mais forte, mais útil, mais própria, mas nunca será a mesma coisa que foi.

Certas coisas se perdem no vento do tempo e se espalham no campo imenso de nossas lembranças e assumem outras formas, que às vezes nem reconhecemos mais, e o ciclo segue com a teimosia de um rio, que corre pela exigência de sua própria natureza sem qualquer vontade ou razão maior que assim o determine.



Coragem

 Afinal em que consiste a coragem, qual o limite entre a temeridade, ou até a bravata impensada e a coragem?

Nunca achei que coragem é não ter medo, pelo contrario, coragem, a meu ver, é ter medo sim, e quanto maior o medo ao enfrentar uma situação e dela não fugir, maior será a coragem.

Coragem pode ser física, e espiritual, sem demérito da física, ainda acho a espiritual maior, pois você enfrenta a si mesmo, desafia um igual tão imprevisível como você o é para si.

Os demônios com os quais têm que lutar são filhos de suas dores, traumas, experiências e dificuldades, eles te conhecem, eles te sabem, eles são você. Esta luta de você com você, é uma luta em que você sempre perderá as batalhas, pois lutará em dois lados, mas ganhará a guerra, pois conhecerá o inimigo que te habita e saberá lidar com ele, não o vencerá, mas conviverá, e poder conviver com seus demônios, sem que eles o possuam, é ganhar a guerra pela sua alma.



O sonho de uma criança

O sonho de uma criança ainda é uma das poucas coisas boas que sobraram nestes tempos um tanto frios e individualistas, sinta-se do outro lado da carta...



Algo errado...

Escuto muito sobre fios soltos e pontas a atar. Mas exatamente o que determina uma ponta? Como atá-la, como percebê-la?

Pontas podem ser vistas, percebidas, sentidas, imaginadas? Seria a sensação de algo errado, ou ainda incompleto o que geraria estas sensações, que no fundo é uma só?

No recente filme estrelado por Sean Penn, “Aqui é o meu lugar”, o seu personagem repete várias vezes ao longo da narrativa a frase:

- Há algo errado, mas eu não sei bem o que é, só sei que há algo errado.

Mais ou menos isto, em uma tradução meio livre, mas com este exato sentido, para não ter que recorrer ao célebre bardo e sua famosa fala sobre haver “algo de podre no Reino da Dinamarca”, que é mais definitiva e dirigida.

Ora, muitas vezes esta sensação, como o personagem de Sean Penn diz ter, pode estar fundamentada em algo que está acontecendo, poderá acontecer ou já aconteceu e deixou este rastro misterioso e desconfortável no seu caminho.

Seria então esta a sensação das pontas soltas? Pode ser, pois até esta última pergunta tende a remeter para algo errado...



sábado, 10 de novembro de 2012

Reféns assumidos do definitvo

O definitivo é um risco, pois nele se encerra o fim da busca, e a busca nos mantém vivos, viver é especular, buscar, tentar, acertar e errar.

Às vezes penso se o completo, se o feito, não é só uma rendição, só uma forma de aceitar o que no momento nos parece imperioso?

Não falo de tarefas pontuais, de ações de curso e desfechos cartesianos, falo daquelas que trazem embutidas em si mesmas a semente do provisório, do casual, do duvidoso, quero falar do risco.

Cortejar e depois flertar com o risco é uma espiada através da fresta escura das coisas que guardamos em quartos remotos, que teimam em existir iluminados por velas antigas, através de teias e pó dos tempos que nos lembram de sua existência por mais que tentemos ignorar que lá estão, mas que sabemos que existem, porque sentimos que existem, e sentir sempre foi mais que ver.

Muitas vezes nos refugiamos na confortante rotina da vida que temos, recordando com pudor as experiências vividas, com o viés da dúvida calma, como se elas jamais tivessem acontecido, porque elas sempre teimam em fugir do previsto e do definitivo, são arrivistas a desafiar as nossas pobres certezas, e a elas cedemos em suave torpor, no ópio dos sonhos irreais, sem acordar, pois despertos já estamos e não nos damos conta disto.

Que viva o sonho, dimensão irmã da realidade.



sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Só o que é

Pois é, então é assim, simples, liso, claro, brilhante e transparente como um diamante sem jaça. 

Reto, sem curvas para distrair, sem margens a descobrir e confundir, sem cores a definir, só o brilho seco e parado das coisas óbvias, sem difusão, nem interpretação.

Simples assim, na crueza do sentido, sem nuances, o fim da especulação, da explicação, só a resposta sem adereços, só o que é, sem vácuo e nem espaço, não cabem, pois é o que é.

Sem sombras, nem proteção, ao sol e chuva, na primitiva forma criada, sem nome e sobrenome, sem adjetivos, só o substantivo nu e impávido, brilhando como um farol arrogante na noite das dúvidas perenes, pois é o que é.

O que é, já está descrito por ser.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Razão e emoção

Somos seres curiosos, para pouco dizer e não derivar na filosofia fácil, mas temos uma tendência, quase compulsiva, de vestir o manto da culpa, mesmo que não nos caiba, somos alfaiates rápidos em ajustá-lo na busca de um perdão não pedido e nem devido.

Cumprimos penitências não impostas, purgamos atos não cometidos, por vezes somos juízes severos de nós mesmos que decretam sentenças irrecorríveis, e para que?

Para que consequências sem causas façam sentido?

Para que consequências ganhem substância e corpo, quando foram só atos fortuitos e sem culpa? 

O culto da culpa é uma forma canhestra de justificar o que não pede explicação, pois dela prescinde por inútil, só nos serve como catarse duvidosa e viciante, que se alimenta de nossa bondade, pois se ser bom é tolice, que tolos sejamos e que na visão idílica da sábia ingenuidade nos embriaguemos, pois de seca, já basta a solidão da culpa indevida.

Somos seres feitos de carne, ossos, desejos e culpas, e que nenhuma prevaleça além de sua medida sobre a outra, senão perdemos o frágil centro, equilibrio precário da condição humana, sempre na cruel balança da emoção e razão. 



Lado

Do outro lado havia um lado, e deste lado um outro lado que sucedia mais lados.

Os lados são o lembrete da dualidade permanente das coisas, sempre existiram e sempre existirão, somos o lado de cá flertando com o lado de lá, somos o lado que olha de lado para o outro lado.

Lados nos definem e confinam, mas legitimam.

Do outro lado havia um lado, o lado de cá que visto do lado de lá, era sempre o mesmo lado, o lado do lado, do lado de cá.




quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Segue...

Na confusão ansiosa das noites quebradas gritam os raios do dia exigindo o seu espaço, pedem razões perdidas e nunca achadas. 

E segue a vida rachada, entre ser e poder ser, esperneando contra o posto, negando o desgosto, sentindo cheiro para lembrar o gosto, numa rima pobre que pede seu espaço, sem poder ter.

E a vida segue bebendo da água da dúvida, esperando o que deseja improvável, na confiança dos bêbados que se negam a acordar, pois o sonho não precisa ser viável, só ser sonhado.

E segue o rio, protelando, protestando nas curvas e margens incertas, mas fluindo na certeza inevitável de seu destino, o mar imenso que não o percebe, mas dele vive, já que mais do que ter ido é continuar indo.

Mais do que ser entendido é ter sido, mais do que viver é ser, mesmo sem nunca ter sido.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

E esta tal de felicidade?

Como falar de felicidade?

Leio centenas, talvez milhares de definições, mas nenhuma me convence, e nem poderia, pois felicidade é uma percepção pessoal. Não exige e nem pressupõe razões, pois razões coletivas são meros placebos que induzem ao conforto na pluralidade exposta.

Ser feliz é o destino e razão do ser humano, ninguém, salvo os sociopatas, e certa forma até eles, deixa de ansiar vida toda em serem felizes. Mas como percebê-la?

Às vezes pode ser um estado duradouro, mas isto é raro, na maioria das vezes é uma situação de curto prazo e grande intensidade. Sim, não é só uma mera semelhança, a felicidade é um orgasmo, curto, intenso e sempre almejado, iconizado até.

Felicidade, como sexo, não enjoa, não cansa e quando mais se faz e espera fazer, mais se quer, é uma espécie de vício benigno, a dependência eterna da condição humana. 

A busca constante da felicidade é um destino confesso e compulsório.



Who cares?

Pois é, voltamos a atualizar o blog, e procurando assunto, mesmo com as eleições americanas, com o rescaldo do “Sandy”, ainda acho que falta assunto, digo assunto que realmente diga respeito a nós, e não à nossa natural curiosidade.

Ora, sejamos francos, que diferença pode fazer a nós pobres mortais, aqui na terrinha, qual será o novo presidente do grande a arrogante irmão do norte? Fora as teorias de conspiração sobre a perseguição de somos vitimas de rotina, membros que somos de uma lista permanente de bodes expiatórios, vistos e definidos por eles como refúgio de radicais e outras asneiras de mesmo teor, que a cada crise é relida, nada muda seja quem for o sagrado pelas urnas nos Estados Unidos.

Mas este deslumbre tupiniquim, lembra muito os indígenas trepados em árvores vendo os portugueses desembarcarem suas contas de vidro, seus espelhos e sua prepotência colonizadora, saímos das arvores e fomos para a frente da TV, as contas coloridas nos chegam pelas mãos dos hábeis intermediários da mídia colonizada.

A irreverente revista MAD (veja como também sou colonizado, rsss), tinha como lema: “Quem, eu me importar? Alguma coisa como “Who cares? Quem se importa? 

Bem, eu não...



domingo, 4 de novembro de 2012

Das coisas sonhadas e vividas

Por vezes me sinto tentado a pensar que as melhores coisas da vida são aquelas que foram sonhadas e não as que se realizaram.

Ninguém sonha com dificuldades, com obstáculos, com sacrifícios, eles existem para impedir ou serem superados pela avaliação pragmática do desafio ao sonho.

As coisas sonhadas são sempre perfeitas, não deixam consequências ruins, pois ninguém sonha com consequências ruins, elas são produto de um sonho posto em prática na realidade.

As coisas sonhadas são perfeitas, pois são editadas por nossa vontade e desejo, são sofismas autoindulgentes, são sonhos afinal.

As coisas sonhadas são a melhor saudade, mesmo que doa, pois são o que poderia ter sido se a realidade não as atropelasse.

É, talvez eu tenha razão, infelizmente, mas as coisas sonhadas são o delírio amargo que nos lembra de nossa doce ilusão, mas são lembranças fortes e eternas, muito porque nunca aconteceram e nem poderiam pois foram o nosso duplo idealizado.



Imagem inversa e escolhas

O duplo, o dobro, o dual, a opção, a bifurcação, o binário, o negativo, o oposto.

A vida se divide em duas, em duplas e contrapontos, como de fugir de escolhas, se elas fazem parte da dualidade das coisas?

Somos um só diante bifurcações que se bifurcam geometricamente a cada escolha, novas divisões a cada decisão e opção.

Já foi dito que devemos manter as opções em aberto, mas creio que ao contrário, as opções nos obrigam a sermos abertos, pois quem não opta, não vive.

Até um espelho que deveria nos refletir exatamente, nos inverte.



Roubando a alma?

Alguns nativos, indígenas ou sei lá qual o nome politicamente correto para referir-se a eles, pois eu prefiro somente designá-los como pessoas, tinham a crença de que a fotografia que o branco trazia lhes roubaria a alma se para ela posassem.

Curioso, mas com muito fundamento, empírico, espiritual, atávico, difícil dizer, mas com fundamento sem dúvida, pois imagens colhidas de momentos vividos eternizam situações, roubando-lhes a continuidade, congelando e cristalizando.

Seja em preto e branco, dualidade da vida, seja sépia, tempo da vida vivida, seja em cores, promessa de vida, a fotografia sempre eterniza a alegria, a dor, a vaidade, o instante, o perene, o fátuo, o continuo, o registro de algo que passou e redesenha o momento permitindo que este seja revivido a cada vez que é mirado.

É, sem dúvida, se não rouba a alma, pode aprisioná-la em um momento qualquer.


Eu acredito

Eu acredito, e acredito mais ainda quando não tenho porque acreditar.

Eu acredito porque acreditar é duvidar do impossível, do difícil, do improvável, duvidar do curso natural das coisas.

Eu acredito no que não deveria acreditar. 

Eu acredito no que não poderia acreditar.

Eu acredito no inacreditável, porque acredito no paradoxo.

Eu acredito que não devia acreditar no que acredito, por isso eu acredito.

Não acredito na esperança, pois acreditar nela é duvidar daquilo que acredito.

Só não acredito no que disse acreditar, mas lembrem de que acredito no paradoxo...



                                                                                              

Noite

Desbravando a noite, embalado por seus ruídos ocos e surdos, andando a luz de velas apagadas.

A noite é uma espécie de metáfora do limbo entre dias, tem vida e regras próprias, é um tempo de espera e medos novos, tempo oculto, antítese oblíqua do dia, contraponto do previsto e visto, a noite é uma silhueta do dia, mas silhuetas nem sempre são fiéis à imagem que as gera.

De dia se anda para algum lugar, na noite só se anda.



sábado, 3 de novembro de 2012

Insegurança cartesiana, um triste paradoxo

Usando Virgílio sem pudor do plágio, creio se não posso ter o céu, reinvento e reescrevo o inferno, nele me queimo e imolo, e dele saio diferente, nem novo, nem velho, só com o gosto das cinzas na boca, a alma molhada e o coração seco, sem mais querer ter asas, pois não saberia mais para onde voar...

Beber na fonte de Virgílio, lambuzar-se de Santo Agostinho e lhe fazer eco em dizer que; “a medida do amor é amar sem medida”, pois pobres são os prisioneiros da razão que se debatem no labirinto da lógica, cartesianos perdidos na floresta de suas certezas, na eterna procura de uma dúvida que lhes ilumine a vida e os salve do aceito e bem medido, vivendo da dose exata da insatisfação, com o medo perene do inesperado, do imponderável, do imprevisível, da vida enfim.


Nem?

Montes, metas e muros, morros mortos, meio verso, meio lógico, meia vida.

Medo, meço e miro, muito mais seria, muito menos que meio, pouco.

Maior, menor, mirante, minto que espio, mente e muda, na muda palavra sem rima.

Manhã, amanhã, fim.

Sem pé, sem métrica, com cabeça, meu em mim.

Nada não, deleta, perde e esquece.

Nem nunca.

Nem.

Né?

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Antes das coisas terem nomes

Houve uma vez, numa época distante, uma era de magos, fadas e bruxas, quando vivia a terra sua primeira infância. Tudo era mágico e irreal, a realidade era surreal, a lógica ainda não existia e tudo o que era sonhado acontecia.

Não existiam conflitos entre emoção e razão, pois razão foi um freio inventando depois, para que o coração humano não explodisse só com a emoção. Não era um paraíso, pois não havia como comparar o que era bom ou ruim, as coisas aconteciam no tempo, intensidade e dimensão que tinham que acontecer. Não era um paraíso porque o inferno ainda não tinha sido inventado, e o que era bom ou ruim não precisava ser descrito, era só sentido.

Neste tempo mágico, as emoções se atropelavam, como se num frenesi alcoólico estivessem, passando de uma para outra, variando intensidade, se misturando, se confundindo em um imenso delírio sem limites e fronteiras, pois ainda não tinham sido inventados os rótulos e os nomes das coisas. Isto só veio depois.

E quando esta época acabou, dela não se guardou lembrança, saudade ou lamento, pois estas coisas ainda não tinham sido inventadas.

Pensando bem, nunca existiu esta época, pois para que ela tivesse existido, teria que ter sido inventada, e nesta época estas coisas não tinham sido inventadas.


Escrever é um ato mágico?

Estava assistindo a um filme hoje à tarde, aproveitando o feriadão, um bom filme com uma história bem interessante, mas não é este o objeto de meu comentário, ele se prende a uma frase dita pelo personagem principal, um escritor.

Dizia ele que escrever é um ato mágico, e que as palavras não vem de você, e sim através de você.

Penso que sim, penso que seja exatamente assim. Não que me considere um escritor, pois tenho a consciência, sem falsa modéstia, de estar muito, mas muito longe disto. Eu apenas escrevo como se falasse, falasse para mim, de mim e através de mim.

Perguntaram-me se alguns de meus despretensiosos textos eram autobiográficos. Respondi que sim e não, pois se acredito que palavras possam vir através de mim, inevitavelmente passaram por experiências próprias vividas, ou pensadas, sonhadas, lidas, sei lá, mas que de alguma forma e em algum lugar se fixaram dentro de mim, para ganhar vida em algum texto posterior, sem que eu as pudesse acessar ou tentar acessar conscientemente, só vieram e lá ganharam forma expressa.

Na maioria das vezes eu começo alguma coisa sem ter uma ideia clara de onde quero chegar e nem como, só vou convivendo com o caminhar do texto e aceitando-o, gostando ou não, identificando-me ou não com que lá está.

Sem dúvida, ao menos na minha visão bem amadora, escrever é um ato mágico.


 

Finados

Só para lembrar:


O Dia de Finados é o dia da celebração da vida eterna das pessoas queridas que já faleceram. É o Dia do Amor, porque amar é sentir que o outro não morrerá nunca. 

É celebrar essa vida eterna que não vai terminar nunca. Pois, a vida cristã é viver em comunhão íntima com Deus, agora e para sempre. 

Desde o século 1º, os cristãos rezam pelos falecidos; costumavam visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio. No século 4º, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Desde o século 5º, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava.

Desde o século XI, os Papas Silvestre II (1009), João XVIII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia por ano aos mortos.


 Desde o século XIII, esse dia anual por todos os mortos é comemorado no dia 2 de novembro, porque no dia 1º de novembro é a festa de "Todos os Santos".

O Dia de Todos os Santos celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados. O Dia de Todos os Mortos celebra todos os que morreram e não são lembrados na oração.

Mons. Arnaldo Beltrami – vigário episcopal de comunicação
Fonte:
http://www.arquidiocese-sp.org.br

 

Intervalos ou lapsos?

Andando pelo centro da cidade e assistindo televisão, pude observar que o Natal já chegou. Fui até conferir no calendário, afinal eu poderia ter sido vítima de um lapso de tempo tão comum em filmes de ficção cientifica, mas não, de fato ele chegou.

Bom, brincadeiras a parte, a verdade é que o comércio vive destas datas especiais e outras nem tanto, mas vale tudo para vender mais, nada contra, é só uma constatação, apesar muito particularmente considerar esta profusão de dias disto e dias daquilo, como deslavados caça-níqueis, mas a verdade é que funciona.

Oe seja, esta ânsia por dias especiais, por datas comemorativas, sempre me soou como uma espécie de insatisfação perigosa. Muita gente pauta a vida pelas datas, quando é nos intervalos entre elas que a vida se dá. 

A ansiedade pela próxima comemoração faz com que a vida escape entre os dedos nos intervalos, sem que a gente perceba.



Nonsense

Sim, bem assim, deste jeito mesmo,

Não, nunca foi, nem poderia.

Sim, foi e será, sem que queira ou possa,

Não, nada a ver.

Não precisa fazer sentido, não precisa ser entendido, não precisa ser lógico, não precisa.

Não é preciso, é incerto, não é lógico, é humano, não é razoável, é viável, é o que é, sem ter como nem por que, só é, solto no delírio das palavras, afogado na confusão da lembrança errática.

O que é? Nunca soube e nem quis saber e se soubesse não entenderia.

Caminhando contra o vento, sem lenço e com alguns documentos, na chuva de novembro, eu tento ir...


 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Do amor e outras coisas

Todos os amores que tive, e não foram poucos, foram de todas as cores, sabores e sons, foram doídos, foram doces, foram rápidos, demoraram, alguns intensos e pesados como um vinho do Porto, outros leves e suaves e de sabor travado como um suco de lima da Pérsia, foram muitos, os que tive, os que quis ter, os aconteceram de verdade e os que sonhei, foram tantos que são maiores que minha lembrança.

Mas dentre eles, um foi maior, não pela intensidade, ou pelo tempo, ou até pela promessa de mais, não, não foi por isso, foi maior pela capacidade de sintetizar todos os que tive, somá-los, resumi-los e esquecê-los, lançar um manto mágico sobre eles, deles extrair a essência e dela se perfumar, dela se embriagar e nela se fazer.

Romântico, piegas, óbvio? Tudo isto e nada disto, só um exercício pobre de delírio literário de folhetim barato, pois nada é como devia ser, e ao mesmo tempo é, pois o nada é o terreno fértil dos sonhos.


Labirinto

Mato fechado, cheiro de chuva, sombra de nuvem, lama na trilha, sol envergonhado, tempo molhado, vida em suspenso.

Tempo de espera, de aguardo, tempo medido, pensado e descartado, tempo marcado.

Fim de caminho, certeza de saída, dúvida de chegada, labirinto.

Asas de Ícaro, derretendo ao sol da desesperança.