O definitivo é um risco, pois nele se encerra o fim da busca, e a busca nos mantém vivos, viver é especular, buscar, tentar, acertar e errar.
Às vezes penso se o completo, se o feito, não é só uma rendição, só uma forma de aceitar o que no momento nos parece imperioso?
Não falo de tarefas pontuais, de ações de curso e desfechos cartesianos, falo daquelas que trazem embutidas em si mesmas a semente do provisório, do casual, do duvidoso, quero falar do risco.
Cortejar e depois flertar com o risco é uma espiada através da fresta escura das coisas que guardamos em quartos remotos, que teimam em existir iluminados por velas antigas, através de teias e pó dos tempos que nos lembram de sua existência por mais que tentemos ignorar que lá estão, mas que sabemos que existem, porque sentimos que existem, e sentir sempre foi mais que ver.
Muitas vezes nos refugiamos na confortante rotina da vida que temos, recordando com pudor as experiências vividas, com o viés da dúvida calma, como se elas jamais tivessem acontecido, porque elas sempre teimam em fugir do previsto e do definitivo, são arrivistas a desafiar as nossas pobres certezas, e a elas cedemos em suave torpor, no ópio dos sonhos irreais, sem acordar, pois despertos já estamos e não nos damos conta disto.
Que viva o sonho, dimensão irmã da realidade.
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