Houve uma vez, numa época distante, uma era de magos, fadas e bruxas, quando vivia a terra sua primeira infância. Tudo era mágico e irreal, a realidade era surreal, a lógica ainda não existia e tudo o que era sonhado acontecia.
Não existiam conflitos entre emoção e razão, pois razão foi um freio inventando depois, para que o coração humano não explodisse só com a emoção. Não era um paraíso, pois não havia como comparar o que era bom ou ruim, as coisas aconteciam no tempo, intensidade e dimensão que tinham que acontecer. Não era um paraíso porque o inferno ainda não tinha sido inventado, e o que era bom ou ruim não precisava ser descrito, era só sentido.
Neste tempo mágico, as emoções se atropelavam, como se num frenesi alcoólico estivessem, passando de uma para outra, variando intensidade, se misturando, se confundindo em um imenso delírio sem limites e fronteiras, pois ainda não tinham sido inventados os rótulos e os nomes das coisas. Isto só veio depois.
E quando esta época acabou, dela não se guardou lembrança, saudade ou lamento, pois estas coisas ainda não tinham sido inventadas.
Pensando bem, nunca existiu esta época, pois para que ela tivesse existido, teria que ter sido inventada, e nesta época estas coisas não tinham sido inventadas.
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