Somos seres curiosos, para pouco dizer e não derivar na filosofia fácil, mas temos uma tendência, quase compulsiva, de vestir o manto da culpa, mesmo que não nos caiba, somos alfaiates rápidos em ajustá-lo na busca de um perdão não pedido e nem devido.
Cumprimos penitências não impostas, purgamos atos não cometidos, por vezes somos juízes severos de nós mesmos que decretam sentenças irrecorríveis, e para que?
Para que consequências sem causas façam sentido?
Para que consequências ganhem substância e corpo, quando foram só atos fortuitos e sem culpa?
O culto da culpa é uma forma canhestra de justificar o que não pede explicação, pois dela prescinde por inútil, só nos serve como catarse duvidosa e viciante, que se alimenta de nossa bondade, pois se ser bom é tolice, que tolos sejamos e que na visão idílica da sábia ingenuidade nos embriaguemos, pois de seca, já basta a solidão da culpa indevida.
Somos seres feitos de carne, ossos, desejos e culpas, e que nenhuma prevaleça além de sua medida sobre a outra, senão perdemos o frágil centro, equilibrio precário da condição humana, sempre na cruel balança da emoção e razão.
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