Existe uma linha muito tênue, por vezes até imperceptível, mas sem dúvida muito forte, que separa o emocionalmente elevado, a comoção sincera, do meramente piegas.
Assim como uma linha de pesca muito resistente, que mesmo fina e até translúcida, dependendo de sua exposição à luz, é forte o suficiente para aguentar muitos quilos, esta linha divisória, na luz das emoções baratas e vendidas a preço baixo, é facilmente ultrapassada, mas nunca deveria ser ignorada, por consistente que é, sob pena de aviltar o objeto da comoção.
Quando vejo matérias, como estas que estão invadindo o nosso domingo, sobre o falecimento da apresentadora Hebe Camargo, me vem sempre à mente o que escrevi acima. A falta de pudor e a ganância pela audiência, a meu juízo, ofende a memória do homenageado. A profusão de lugares comuns e clichês pobres, todos garimpando sem ética, a emoção do telespectador.
Hebe Camargo foi uma artista de imenso carisma, e muito querida por seu público fiel, ao longo dos anos em que esteve nas telas de diversas emissoras, mas a tentativa canhestra de “canonização” dela creio que ofenderia até a ela, se viva estivesse.
Nestes tempos de pouca reflexão, de uma velocidade muitas vezes sem sentido ou razão, tudo é vendido, e se o é, é porque tem mercado. Na falta do tempo para pensar e ponderar compra-se tudo, inclusive a reflexão e a emoção fácil, enlatada, popularizada e cantada em voz falsamente contrita, em textos grávidos de elogios vazios.
Vivemos em tempos curiosos.
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