Desconfio da profunda convicção, da certeza absoluta, da paixão desmedida. Quando vejo, leio, assisto às declarações apaixonadas de partidários de fulano ou beltrano, sempre me vem uma incômoda e cínica pergunta: O que ele vai ganhar com isto?
Nada é de graça, pode não ser medido pela régua financeira, mas sempre tem um custo embutido, sempre tem alguma troca, alguma negociação camuflada no “desprendimento” declarado com excessiva veemência.
As coisas que já vi ao longo de minha vida devem ter me tornado cético com o tempo, pode ser, ou quem sabe o ceticismo não tenha se originado numa espécie de cinismo atávico? Sei lá, domingo não é um bom dia para estas considerações.
Mas, que em todo o exagero, em todo o superlativo, em toda a emoção pública excessiva sempre tem um certo cabotinismo, isto tem, e ninguém vai me convencer do contrário. Em todo o aumento de volume e no uso despudorado de adjetivos, pode se ver sempre alguma, senão muita, carência de matéria substantiva.
A política cada vez mais se caracteriza pelo absurdo gritado, como uma peça de teatro grego cantada dois tons acima do normal.
Parafraseando Shakespeare, me arrisco a dizer que vejo esta veemência superlativa da nossa política, na sua forma “representada”, como cada vez mais um espetáculo de som e fúria, encenado por espertos e não significando nada.
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