Até hoje, mesmo nos exemplos menos compromissados, utilizados até em propagandas, ou mesmo no esporte, são celebradas as virtudes do esforço além do limite da dor como sendo a única maneira de gozar-se os benefícios de uma conquista. Em uma indução maniqueísta, só os que sofrem merecem atenção, não que lhes seja dada, na esmagadora maioria das vezes não é, mas é sempre anunciada como propósito justo, correto e inquestionável.
Durante séculos a chamada religião cristã celebrou o sofrimento e a dor física de Cristo, vide as “via crúcis” espalhadas pelas igrejas, que sem surpresa alguma foi originada na negra época das cruzadas, como sendo o ponto alto do cristianismo, em uma leitura cruel e manipuladora, pois, mesmo se lido como se um texto laico fosse, o novo testamento exalta a alegria, o perdão a tolerância e a redenção. Por que então a ode sistemática à dor e ao sofrimento?
Simples, pelo uso eficaz e comprovado na época, como instrumento de manipulação de corpos e mentes, pelo poder temporal dai advindo, pela forma de calar o povo diante dos brutais sofrimentos físicos e das obscenas injustiças sociais, e com isto legitimar e tornar inquestionáveis os pretensos direitos divinos de reis e príncipes, e em consequência, consolidar o papel da igreja oficial como árbitro e grande beneficiário daquele estado de coisas.
Este mercantilismo com a imagem de Cristo evoluiu de uma vida eterna prometida em troca do trabalho escravo e da obediência inquestionável, úteis conquanto os governantes fossem vitalícios, para a recompensa nesta vida terrena mesmo, diante de módicas e nem tão módicas contribuições financeiras, pois as necessidades de quem têm ou almeja o poder e a riqueza, são mais urgentes que o eram na época.
Tristes tempos estes, onde nada mudou a não ser o “modus operandi” da manipulação ancestral que sempre infelicitou a nossa confusa espécie, se Cristo voltasse a terra hoje em dia, teria uma enorme dificuldade em entender o que chamam de cristianismo.
Um comentário:
"É". Mas...e a Fátima Bernardes? Acho que "o problema" da civilização judaico-cristã é a falta de cosmovisão.
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