É, está nos detalhes...

Nós somos curiosos mesmo, quando paramos para pensar, mesmo que seja para pensar besteira é um perigo, a gente viaja longe.

Vejam vocês, será que sou eu ou às vezes dá uma impressão de que passamos a vida toda atrás dos grandes feitos, das grandes realizações, das grandes emoções, e sempre tratando o resto da vida como se fossem prólogos ou epílogos anônimos? Com se a vida fosse uma sucessão coisas comuns, banais, irrelevantes, cortada aqui e ali por eventos dignos de nossa atenção e reverência? 

Bem, eu acho que não, mas não mesmo, penso que a vida está nos detalhes, nos pequenos eventos, nas pequenas coisas, nos pequenos prazeres, num telefonema inesperado, num sorriso não previsto, num cheiro bom, numa coisa gostosa, num pequeno gesto de carinho, numa gentileza, num beijo bem dado. E vou mais longe, em que momento de nossas vidas começamos a padecer desta miopia? De fixar os olhos da mente só nestas aspirações?

E o mais estranho da coisa, é quando somos crianças, a vida está justamente no detalhe, na projeção das pequenas coisas é que construímos os imensos castelos de nossas fantasias infantis. Castelos que por vezes nos assombrarão pelo resto da vida. Um brinquedo de plástico vira uma odisseia espacial, uma boneca torna a menina em mãe e mulher.

E depois, eles vão sendo abandonados em favor de estímulos adotados e acabam guardados nas mesmas gavetas em que guardamos a nossa infância, cuja memória sobrevive mais nas fotografias de álbuns esquecidos, do que nas prateleiras de nossa alma ansiosa.

E depois, mais tarde, quando boa parte da vida já se passou, estranhamente esta miopia regride e os detalhes voltam a ser importantes e mais adiante se tornam a própria vida.

Mas aí já tarde, os detalhes que eram “quando”, passam a ser “se”.

É, acho que a vida sempre acaba se perdendo em algum detalhe não percebido e vivido as pressas.