terça-feira, 15 de maio de 2012

O homem que escrevia com uma faca...

Henry Miller, escritor norte americano (1891-1980), foi um dos maiores expoentes de um tipo de literatura crua, sem os adereços da época, é considerado um precursor do estilo "escrever com as entranhas", era visto como pornográfico por muitos, polêmico por quase todos, e foi uma forte influência para Fante, Kerouac, Ginsberg e outros, principalmente os chamados "malditos".

A seu crédito livros famosos como Trópico de Capricórnio, Trópico de Câncer, Sexus, Plexus e Nexus, foi também amante da famosa e não menos polêmica e talentosa escritora, Anais Nin.

Veja uma amostra de seu estilo cáustico:


O Homem Que Confessa os Seus Pecados Nunca é o Mesmo Que os Cometeu

Monstro, robô, escravo, ser maldito - pouco importa o termo utilizado para transmitir a imagem da nossa condição desumanizada. Nunca a condição da humanidade no seu conjunto foi tão ignóbil como hoje. Estamos todos ligados uns aos outros por uma ignominiosa relação de senhor e servo; todos presos no mesmo círculo vicioso entre julgar e ser julgado; todos empenhados em destruir-nos mutuamente quando não conseguimos impor a nossa vontade. Em vez de sentirmos respeito, tolerância, bondade e consideração, para já não falar em amor, uns pelos outros, olhamo-nos com medo, suspeita, ódio, inveja, rivalidade e malevolência. O nosso mundo assenta na falsidade. Seja qual for a direção em que nos aventuremos, a esfera de atividade humana em que nos embrenhemos, não encontramos senão enganos, fraudes, dissimulação e hipocrisia.

Conhecer do fato de que, por muito alto que estejam colocados, os homens não conseguem, não ousam, pensar livremente, independentemente, quase desespero de me fazer ouvir. E se falo ainda, se me arrisco a exprimir os meus pontos de vista sobre certas questões fundamentais, é porque estou convencido de que, por muito negro que seja o panorama, uma mudança drástica é, não só possível, mas até inevitável. Sinto que é meu direito e meu dever de ser humano promover essa mudança. Sem querer, de modo algum, vangloriar-me, gostaria de fazer notar que ao longo de toda a minha obra se encontram provas de que eu próprio sofri uma transformação: e é perfeitamente óbvio e claro que o homem que narra a história da sua vida não é o mesmo que o «herói» que percorre as páginas desses romances autobiográficos. O homem que confessa os seus pecados, os seus crimes ou os seus erros nunca é o mesmo que os cometeu.

Henry Miller, em "O Mundo do Sexo".



Seu estilo cortante leva a gente a pensar que ao invés da caneta, Miller escrevia com uma faca, até o próximo livro!

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