Estes dias,
falei de um livro preferido por mim, “Chatô, O rei do Brasil”, do Ruy Castro,
muito bem, relendo-o, creio que pela quinta ou sexta vez, deparei-me com um
trecho que acho emblemático das relações humanas, tanto na mordacidade quanto na constatação do óbvio
que todos temem e ignoram quando conseguem.
Por ocasião
da chamada “intentona comunista” (denominação pejorativa inventada pela
direita), deu-se um fato curioso, relatado no livro:
“Uma tarde, em meio a uma roda de
jornalistas, ao ver uma foto de presos políticos sendo levados para um
navio-prisão, Chateaubriand comentou com Astrojildo Pereira (um dos fundadores
do PCB, que tinha sido expulso do partido e não participara da revolta):
- O senhor acha que estes sujeitos com
essas caras de idiotas tinham condições de governar o país?
Eram seus desafetos, mas Astrojildo
não deixou a grosseria passar em branco:
- Doutor Assis, todo o derrotado tem
cara de idiota.”
É, meus
amigos, esta é uma das verdades mais cristalinas e doloridas que existem. A
derrota é sempre feia, sempre solitária, glorifica-la é apenas um placebo espiritual.
Diz-se muito, “é, mais a gente aprende!”...
Sem dúvida
que sim, aprende porque dói, porque humilha, ninguém gosta e nem quer este tipo
de aprendizado na ponta de um porrete metafórico, a expressão é só um consolo,
que só funciona depois da dor, na hora você quer é vingança, é sumir, é
esquecer o que se deu. A aceitação altruísta da derrota é para os espíritos
elevados, o que definitivamente, não é o caso de muitos.
E dentre as
derrotas, a pior, a meu critério, é aquela em que se vence, mas não leva, é uma
derrota tristemente comum na política, e que só “ajuda” na fixação da imagem da
rasteira e da traição como componentes corriqueiros da prática política. Quem, do meio, não poderia enumerar uma boa quantidade destes casos?
Enfim, todo o
derrotado tem cara de idiota, porque se sente um.
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