sexta-feira, 11 de maio de 2012

Todo o derrotado tem cara de idiota...



Estes dias, falei de um livro preferido por mim, “Chatô, O rei do Brasil”, do Ruy Castro, muito bem, relendo-o, creio que pela quinta ou sexta vez, deparei-me com um trecho que acho emblemático das relações humanas, tanto  na mordacidade quanto na constatação do óbvio que todos temem e ignoram quando conseguem.


Por ocasião da chamada “intentona comunista” (denominação pejorativa inventada pela direita), deu-se um fato curioso, relatado no livro:


“Uma tarde, em meio a uma roda de jornalistas, ao ver uma foto de presos políticos sendo levados para um navio-prisão, Chateaubriand comentou com Astrojildo Pereira (um dos fundadores do PCB, que tinha sido expulso do partido e não participara da revolta):


- O senhor acha que estes sujeitos com essas caras de idiotas tinham condições de governar o país?


Eram seus desafetos, mas Astrojildo não deixou a grosseria passar em branco:


- Doutor Assis, todo o derrotado tem cara de idiota.”


É, meus amigos, esta é uma das verdades mais cristalinas e doloridas que existem. A derrota é sempre feia, sempre solitária, glorifica-la é apenas um placebo espiritual. Diz-se muito, “é, mais a gente aprende!”...


Sem dúvida que sim, aprende porque dói, porque humilha, ninguém gosta e nem quer este tipo de aprendizado na ponta de um porrete metafórico, a expressão é só um consolo, que só funciona depois da dor, na hora você quer é vingança, é sumir, é esquecer o que se deu. A aceitação altruísta da derrota é para os espíritos elevados, o que definitivamente, não é o caso de muitos.


E dentre as derrotas, a pior, a meu critério, é aquela em que se vence, mas não leva, é uma derrota tristemente comum na política, e que só “ajuda” na fixação da imagem da rasteira e da traição como componentes corriqueiros da prática política. Quem, do meio, não poderia enumerar uma boa quantidade destes casos?


Enfim, todo o derrotado tem cara de idiota, porque se sente um.

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