quarta-feira, 16 de maio de 2012

A história do passarinho e a mocinha...

Esta é do imortal e genial jornalista, escritor, radialista, cronista e humorista carioca, falecido precocemente, Sérgio Porto (1923-1968), o criador de Stanislaw Ponte Preta, seu pseudônimo e de Tia Zulmira, Rosamundo, Mirinho e outros personagens inesquecíveis da nossa literatura de humor. Abaixo uma amostra de seu incrível talento, extraída do livro "Tia Zulmira e eu" (1961), divirtam-se:  

A HISTÓRIA DO PASSARINHO

O QUE vocês passarão a ler é um lindo conto escrito por Tia Zulmira, nossa veneranda parenta e conselheira. Trata-se de obra para a literatura infantil, à qual a sábia e experiente senhora vem se dedicando agora, após o convite para participar de um concurso de histórias infantis promovido por um programa de televisão. Cremos que não é necessário acrescentar que a boa senhora tirou o primeiro lugar. Mas, passemos ao conto:

"Era uma vez uma mocinha muito bonita, que morava num lugar chamado Copacabana. Era uma mocinha muito prendada e com muito jeito para as coisas. Estudiosa e obediente, frequentava sempre o programa de César de Alencar, ia ao "Bob's" e adorava 'cuba-libre'. Lia muito e gostava, principalmente, da 'Revista do Rádio' e da 'Luta Democrática'. Todos elogiavam a beleza da mocinha. Ela tinha cara bonita, olhos bonitos, pele bonita, corpo bonito, pernas bonitas, figura bonita. Era toda bonita. Apesar disso, não era feliz, a mocinha. Ela sonhava com uma coisa, desde pequena - queria entrar para o teatro. Sua mãe sempre dizia que não valia a pena, que ela podia ser feliz de outra maneira, mas não adiantava. O sonho da mocinha bonita era entrar para o teatro. Só pensava nisso e colecionava fotografias de Virgínia Lane, Sofia Loren, Nélia Paula e Marilyn Monroe.

Um dia, a mocinha estava muito triste, porque não conseguia ver realizado o seu ideal, quando um passarinho chegou perto dela e perguntou:

- Por que é que você está triste, mocinha? Você é tão bonita. Não devia ser triste.

- Eu estou triste porque quero entrar para o teatro e não consigo - respondeu a mocinha.

O passarinho riu muito e disse que, se fosse só por isso, não precisava ficar triste. Ele havia de dar um jeito. E de fato, no dia seguinte, passou voando pela janela do quarto da mocinha e deixou cair um bilhetinho que trazia no bico. Era um bilhetinho que dizia: 'Fila 4, Poltrona 16.' A mocinha foi e num instante conheceu o empresário do teatro que, ao vê-la, se entusiasmou com sua beleza. Foi logo contratada e, já nos primeiros ensaios, todos elogiavam seu desembaraço. Ela ensaiou muito mas não contou nada pra mãe dela. Somente na noite de estreia é que, antes de sair, chegou perto da mãe e contou tudo. A mãe ficou triste ao ver a filha partir para o estrelato, mas ela estava tão feliz que não a quis contrariar. E foi bom porque a sua filha fez sucesso. Foi muito ovacionada; todo mundo aplaudiu. Ela voltou para casa contentíssima e, quando ia metendo a chave no portão, ouviu uma voz dizer:

- Meus parabéns. Você é um sucesso.

Aí ela olhou pro lado espantada e viu o passarinho que a ajudara, pousado numa grade. Ela notou que o passarinho dissera aquilo em tom amargo e quis saber:

 - Passarinho, você agora é que está triste. Por quê?

Foi aí que o passarinho explicou que não era passarinho não. Era um príncipe encantado, que uma fada má transformara em passarinho.

- Oh, coitadinho! - exclamou a mocinha que acabara de estrear com tanto sucesso. - O que é que eu posso fazer por vocêO passarinho então contou o resto do encantamento. A fada má fizera aquilo com ele só de maldade. Para ele voltar a ser príncipe outra vez, era preciso que uma mocinha bonita e feliz o levasse para sua casa e o colocasse debaixo do travesseiro. No dia seguinte o encanto findava.

- Mas eu sou uma mocinha feliz. E foi você mesmo, passarinho, que disse que eu era bonita. Você e todo mundo. E dizendo isso, apanhou o passarinho e entrou em casa com ele. Ajeitou-o bem, debaixo do travesseiro e, cansada que estava das emoções do dia, adormeceu.

No outro dia de manhã aconteceu tal e qual o passarinho dissera. Quando a mocinha acordou havia um lindo rapaz deitado a seu lado. Era o príncipe.

Esta, pelo menos, foi a história que a mocinha contou pra mãe dela, quando a velha a encontrou de manhã, dormindo com um fuzileiro naval. Que, aliás, só não casou com a mocinha, porque já tinha um compromisso em Botafogo.

É, aqui na política de Foz do Iguaçu é a mesma coisa, voce dorme esperando um "príncipe" e acorda com o Sarney, só que você também já sabia disto...


6 comentários:

Joel Gomes disse...

HAHAHAHAH..muito bom nobre amigo..refletir para evoluir!

Anônimo disse...

Ahh!

adolpho luce disse...

Valeu meu amigo, precisamos ficar muito atentos aos passarinhos que falam...e que discursam, rsrsrsrs

sonia januario disse...

vc me fez criar um blog (ooohhh dificuldade para fazer isso) só para poder comentar tuas publicacoes!!!!!!
Mas, voltando ao texto, eu com toda essa ingenuidade que Deus me deu, achando realmente que o passarinho iria se transformar em um príncpe... ja ia ficar na esperanca de transformar um dos meus gatos em príncipe tb!~!!!!

adolpho luce disse...

É bom saber que o que é publicado aqui inspira a criação de um blog. Obrigado! Agora, com o passarinho não deu certo, quem sabe não funciona com o gato...

Leony disse...

Parabéns amigo! gosto muito de suas publicações. Você realmente é um escritor e poeta nato. Boa inspiração pra ti sempre.