Era uma vez um reino encantado, de lindos bosques verdes, riachos murmurantes, um permanente céu azul e pássaros cantando numa eterna primavera. Neste belo país, morava uma linda e pura donzela, meiga e doce como sonho novo de padaria de português sério, que estava terminando o curso de magistério do reino, para ser professora dos lindos petizes que lá habitavam, alguns nem tanto, mas a estória é minha e eu conto como quiser.
Então, voltando, a mocinha acreditava em todos os governos e lia assustada as noticias sobre os homens maus que roubavam o dinheiro dos pobres, que horror! Exclamava chocada. Assistia o Jornal Nacional diariamente e anotava tudo o que Sir Wilhem dizia, copiava em seu caderno de sonetos para reler a noite quando o sono não vinha.
Ela era muito estudiosa e adorava ler sobre a história do reino, e sobre os dragões que aterrorizaram o pequeno país por mais de 20 anos! Ah, como ficava feliz quando chegava à parte em que os cavaleiros andantes surgiram para salvar a pobre população assustada e encolhida.
O primeiro deles ela não lembrava bem, pois parece que mudaram um pouco a história, mas ela achava que se foi mudada devia ter sido para melhor, se bem que desconfiava que tivesse visto um retrato dele em algum lugar, ao lado de uma senhora que se parecia muito com a rainha, mas não devia ser, pois eles estavam juntos com um dos monstros de bigode daquela época, mas tinham dito que todos estavam nas masmorras, então devia ser alguém parecido só.
Depois veio outro, lindo, alto, simpático, falava bem, andava com uns livros enormes em baixo do braço e quando fazia discursos, ela vibrava, apesar de não entender nada. Mas este também se foi, hoje mora em palácio cercado de livros e com um mordomo que não gosta muito dele, um bem feio de olheiras grandes e muito magro. Ela acha que o mau humor dele é fome, pois o cavaleiro, que apesar de ser tão bom, parece só lhe deu migalhas de sua mesa.
E então! Chega o grande príncipe, montado num belo torno mecânico branco e trazendo consigo todos os aldeões em júbilo, afinal ele era um deles, tinha a nobreza conferida pelo exemplo. De inicio promoveu grandes reformas no reino, inclusive uma muito grande no idioma do país, e prometeu castigar os dragões que estavam quietos em suas masmorras.
E com o tempo, o príncipe começou a ficar mais parecido com os príncipes de verdade, comprou novas túnicas, foi viajar para outros reinos, trocou o torno mecânico branco por uma Mercedes zerinho e mandou os seus herdeiros estudarem na escola de pajens mais cara do reino, aliás, um deles aprendeu tanto que comprou a escola, mas isto é outra estória, e você veja se não me atrapalha senão eu me perco na narrativa!
Bom, este grande príncipe tinha uma amiga querida, muito quieta e tímida, mas que quando não estava em público era mais brava que todos os dragões juntos, todos tinham medo dela, mas ele queria descansar e pediu para ela dar uma olhadinha no reino para ele. Todo mundo, que não a conhecia achou graça no negócio. Mas ela topou, brigou muito com o mordomo do cavaleiro dos livros e assumiu o reino.
A gentil mocinha se arrepiava toda nesta parte, imagine só uma donzela que nem eu! E naquela mesa só de homens! Com o tempo, a amiga quieta começou a ficar mais solta e começou a fazer coisas, espiar nas salas fechadas do palácio e olhar de perto seus companheiros de Távola Redonda. E não gostou muito do eu viu. Foi falar com o grande príncipe que disse que era assim mesmo, que não era nada daquilo que parecia e que, por fim, ele não sabia de nada.
E. de repente, sem que ninguém percebesse ela começou a virar rainha, e quando se deu conta, estava de vassoura na mão fazendo faxina no palácio. E os seus companheiros não gostaram, levantava muito pó e incomodava seus narizes nobres e sensíveis. Mas ela continuou assim mesmo. Hoje ainda falta muito, ainda tem muita sujeira, porque o palácio é muito grande e ninguém limpava direito. Mas com o tempo, ela acha que consegue, já distribuiu balde e esfregão para um monte de nobres ajudarem-na, mas eles ainda fazem corpo mole.
E nossa linda donzela? Sei lá, deve estar no ônibus indo para o seu segundo emprego do dia e lendo contos de fada com dragões, príncipes e princesas, que ela adora, aliás, como nós,...o povo brasileiro.
4 comentários:
Gostei!Excelente comparaçao!
Muito obrigado!
como essa historia me parece tão real.... e olha que nao acredito em princípes e princesas, só em dragões mesmo!!!!!!
Analogia perfeita,parabéns.
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